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CLÓVIS ROSSI
Corsários, expostos mas impunes
SÃO PAULO - As notícias sobre a
morte da Espanha, divulgadas insistentemente a partir do colapso
da Grécia, não eram só prematuras.
Foram também levianas, criminosas mesmo. Mas nada vai acontecer
com todo o numeroso lote de "analistas", "economistas" e que tais
que as espalharam. Nem com o jornalismo que as abrigou, acriticamente, como, de resto, tem acontecido sempre que os sábios das finanças se manifestam.
O dado mais espetacular a provar o obsceno grau de especulação
envolvendo a Espanha vem da queda no prêmio de risco que paga para rolar sua dívida. Chegou a um pico de 278 pontos básicos, em meados de junho, ou 2,78 pontos percentuais acima do que paga a Alemanha, que emite os papéis de referência na Europa.
Agora, recuou para o nível em
que estava antes do ataque especulativo que se seguiu à crise grega.
O detalhe é que o recuo se deu
porque os bancos espanhóis passaram, com louvor, no chamado teste
de estresse -ou seja, sua saúde é
sólida o suficiente para aguentar
outro tranco como a recessão pós-quebra do Lehman Brothers (exceção feita a cinco caixas de poupança regionais que todo o mundo sabia que cambaleavam e já estavam
em processo de fusão).
Posto de outra forma: o tal de
mercado especulou alucinadamente com a inviabilidade dos bancos
espanhóis, estendendo a especulação à saúde da economia espanhola. O resultado do teste de estresse
demonstra, cristalinamente, que
não tinham nenhuma informação
que justificasse o ataque.
Tratou-se, portanto, de pura pirataria financeira. Mais uma.
O pior, do meu ponto de vista, é
que os jornalistas somos cúmplices
da pirataria. Publicamos tudo o que
os agentes de mercado dizem (ou
chutam), sem qualquer contraponto. Para os corsários, não vale a regra de "ouvir o outro lado", que se
usa nas demais situações.
crossi@uol.com.br
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