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Deserto paulista
Uma sequência inédita de dias
com baixa umidade do ar levou
várias cidades de São Paulo a ingressar na faixa considerada de
emergência pela Organização
Mundial de Saúde -abaixo de
12%. Na capital, a combinação de
clima excepcionalmente seco e níveis de poluição acima do normal
provocou desconforto generalizado e aumento da incidência de
doenças respiratórias, com reflexo nas filas dos prontos-socorros.
Ao sexto dia seguido de umidade do ar abaixo dos 30% -o ideal
é que o índice supere os 60%-, a
cidade de São Paulo registrou, na
sexta-feira, 12%. Nesse patamar,
crescem os riscos de manifestação
de alergias, pneumonias, arritmias cardíacas e até enfartes.
A massa de ar seco estacionada
na região centro-sul do país inibiu
a formação de nuvens e bloqueou
frentes frias. A decorrente falta de
chuvas e as diferenças de pressão
acarretaram uma "capa" de poluição sobre São Paulo. O fenômeno
é característico desta época do
ano, mas atingiu níveis incomuns
na última semana.
Na quinta-feira, após sete dias
de alta poluição em alguns pontos
da cidade, a agência ambiental do
Estado (Cetesb) recomendou que
a população restringisse o uso de
veículos automotores.
Também o prefeito Gilberto
Kassab (DEM) veio a público afirmar que a administração municipal contava com um plano de contingência e que não descartava a
ampliação do rodízio de carros na
capital. A medida já vinha sendo
pedida por especialistas em saúde. "São Paulo paga o preço por
nunca ter priorizado o transporte
público", sintetizou o médico
Paulo Saldiva, da USP.
Prevê-se que a situação melhore a partir de hoje. Caso isso não
ocorra, a persistência do clima de
deserto poderá levar a prefeitura,
finalmente, a limitar o trânsito de
carros. Ao evitar a medida, o poder municipal certamente terá levado em conta eventuais transtornos e desgaste político.
Se a tivesse adotado, no entanto, teria amenizado o problema
nos últimos dias. Entre a saúde
pública e os automóveis, é de esperar que o prefeito Gilberto Kassab não hesite em escolher a primeira se for preciso enfrentar um
estado de emergência.
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