São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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ELEIÇÃO EM SETE DIAS

Após a redemocratização, nunca um processo de sucessão presidencial começou tão cedo e proporcionou tantas reviravoltas quanto o atual. Esse longo e movimentado processo entra, a partir de amanhã, na sua semana decisiva com um candidato muito à frente dos demais. Luiz Inácio Lula da Silva ampliou, oscilando positivamente dentro da margem de erro, a sua distância sobre o segundo colocado. Com 49% das intenções de votos válidos, o petista está a um ponto e um sufrágio de converter-se em presidente da República no primeiro turno.
Ao longo de todo o processo, Lula sempre se manteve líder nas pesquisas do Datafolha. A sua liderança foi ameaçada em duas ocasiões -com a ascensão da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, nos dois primeiros meses de 2002 e com a do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, em meados deste ano.
Três semanas depois do fenômeno que ficou conhecido como a "desconstrução" da imagem do candidato da Frente Trabalhista, a trajetória de subida de Lula, que chega aos 45% das intenções totais de voto, ainda não encontrou teto, enquanto a de José Serra, que manteve os 19%, não conseguiu romper a barreira dos 20%. Anthony Garotinho, que chegou ao empate técnico com Serra na pesquisa anterior, não logrou, uma semana depois, mover-se dos 15%.
A hipótese que surgiu na pesquisa anterior do Datafolha como uma possibilidade -a vitória da candidatura petista ainda no primeiro turno- ganhou probabilidade sete dias depois. Lula conseguiu manter-se no alto patamar a que chegara. Além disso, pelo fato de a distância entre as suas intenções de voto e as de seus adversários somadas ter diminuído três pontos percentuais, o petista está inteiramente dentro do intervalo estatístico que poderia lhe render os votos necessários à conquista da Presidência no primeiro turno.
Na semana que passou se notou uma tênue mas significativa mudança no tom de comentários de políticos, empresários e agentes de mercado influentes. Muitos já discutem como será um governo petista, deixando de problematizar o fato básico: não está garantida, ainda que se tenha tornado mais provável, a vitória de Lula já no domingo que vem.
É difícil que pelo menos dois de seus adversários diretos que têm chances reais de disputar um segundo turno caso ele ocorra, Serra e Garotinho, desistam de tentar impedir o triunfo do PT. É de esperar que redobrem as forças para tentar barrar a ascensão de Lula e qualificar-se para o turno final. Restam aos presidenciáveis dois dias para apresentação de programas no rádio e na TV, os quais devem ter maior audiência. Na quinta-feira está agendado um debate na TV Globo. Se faltam poucos votos para Lula vencer, falta também pouco para que seus adversários precipitem um segundo turno.
A única certeza que pode ser enunciada hoje é a de que serão dias de duríssima disputa os poucos que nos separam do 6 de outubro, temperados por mais uma rodada de instabilidade nos mercados financeiros.


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