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A ILHA DE LULA
A viagem do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a Cuba foi
cercada de suspeitas. De fato, a visita
poderia ser interpretada não apenas
como um extemporâneo endosso ao
regime de Fidel Castro, mas como sinal de que a política externa brasileira se encaminharia para posições de
confronto com os Estados Unidos.
Enfatizariam essa percepção o papel
que o país assumiu na reunião da Organização Mundial do Comércio, no
México, e o fato de Lula chegar à ilha
logo após sua passagem por Nova
York, quando dirigiu críticas aos
EUA nas Nações Unidas.
Não foram, evidentemente, apenas
oportunidades comerciais que levaram o presidente a Cuba, embora essa hipótese tenha sido acenada na
tentativa de desarmar os ânimos. São
conhecidos os laços históricos do
petismo com Fidel Castro, e Lula
considerava que devia ao "companheiro" uma visita oficial.
Ao fim da viagem, o presidente brasileiro acabou contornando os piores prognósticos. Teria aconselhado
o líder cubano a tomar medidas para
promover a abertura política e encontrou-se com o cardeal de Havana,
dom Jaime Ortega, espécie de mediador entre o regime e seus opositores.
O governante brasileiro ficou devendo, no entanto, uma manifestação mais incisiva. Nos EUA, Lula
censurou, com razão, o tratamento
dispensado a combatentes capturados no Afeganistão. Por uma questão mínima de isonomia, deveria
também ter criticado de forma clara
as prisões e as execuções de Fidel
Castro. Ainda que se reconheçam na
Revolução Cubana muitos méritos
sociais, é impossível deixar de observar que ali vige uma ditadura ornamentada pelo anacrônico culto à personalidade de seu comandante.
Mostrar as diferenças que separam
o Brasil de Cuba, a democracia do
Estado autoritário, não implicaria
apoiar o embargo norte-americano
nem endossar idéias retrógradas da
oposição cubana residente em Miami. Aproveitar a visita para reafirmar
alguns dos valores que o Brasil considera universais só teria reforçado o
compromisso inequívoco do país e
de seu governo com a democracia.
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