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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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A ILHA DE LULA

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba foi cercada de suspeitas. De fato, a visita poderia ser interpretada não apenas como um extemporâneo endosso ao regime de Fidel Castro, mas como sinal de que a política externa brasileira se encaminharia para posições de confronto com os Estados Unidos. Enfatizariam essa percepção o papel que o país assumiu na reunião da Organização Mundial do Comércio, no México, e o fato de Lula chegar à ilha logo após sua passagem por Nova York, quando dirigiu críticas aos EUA nas Nações Unidas.
Não foram, evidentemente, apenas oportunidades comerciais que levaram o presidente a Cuba, embora essa hipótese tenha sido acenada na tentativa de desarmar os ânimos. São conhecidos os laços históricos do petismo com Fidel Castro, e Lula considerava que devia ao "companheiro" uma visita oficial.
Ao fim da viagem, o presidente brasileiro acabou contornando os piores prognósticos. Teria aconselhado o líder cubano a tomar medidas para promover a abertura política e encontrou-se com o cardeal de Havana, dom Jaime Ortega, espécie de mediador entre o regime e seus opositores.
O governante brasileiro ficou devendo, no entanto, uma manifestação mais incisiva. Nos EUA, Lula censurou, com razão, o tratamento dispensado a combatentes capturados no Afeganistão. Por uma questão mínima de isonomia, deveria também ter criticado de forma clara as prisões e as execuções de Fidel Castro. Ainda que se reconheçam na Revolução Cubana muitos méritos sociais, é impossível deixar de observar que ali vige uma ditadura ornamentada pelo anacrônico culto à personalidade de seu comandante.
Mostrar as diferenças que separam o Brasil de Cuba, a democracia do Estado autoritário, não implicaria apoiar o embargo norte-americano nem endossar idéias retrógradas da oposição cubana residente em Miami. Aproveitar a visita para reafirmar alguns dos valores que o Brasil considera universais só teria reforçado o compromisso inequívoco do país e de seu governo com a democracia.



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