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CARLOS HEITOR CONY
O verbalão
RIO DE JANEIRO - Quando afirmo e reafirmo que nada entendo de política -nem pretendo entender-, alguns leitores pensam que é uma tentativa de charme do cronista, ou deslavada insinceridade. Nem tanto,
nem tanto.
Há meses, os corifeus na mídia e a
classe política como um todo, nos botecos e velórios dos tempos do Nelson
Rodrigues, só falam em "mensalões"
e "mensalinhos". Mais emocionante
do que uma corrida da Fórmula 1 é a
disputa que consagrará na pole position os mais indignados, os mais enojados, os mais repugnados, os mais
republicanos, os mais transparentes.
Para não ficar atrás dos valérios e
delúbios, vem agora o governo inaugurar um ramal que não chega a ser
novo, pelo contrário, é mais antigo e
habitual do que qualquer "mensalão" ou "mensalinho". É o verbalão.
Em termos quantitativos, dá um banho nos R$ 7.500 recebidos pelo Severino. São milhões para convencer os
ainda não convencidos a votar no
candidato do governo para a presidência da Câmara dos Deputados.
Ora, direis, ouvir estrelas e o bom
senso. Em tese, o verbalão não se destina ao bolso dos deputados, mas a
obras que aumentarão o cacife dos
candidatos que enfrentarão o eleitorado daqui a um ano para a renovação dos mandatos.
Parte dos "mensalões" e "mensalinhos" também teve motivação mais
ou menos igual, lubrificava ou pagava dívidas de campanhas antigas e
futuras. O conteúdo e a forma do suborno são os mesmos, variando apenas a escala e o propósito.
A escala, como foi dito acima, é formidavelmente maior quando o corruptor é o próprio governo, que usa
dinheiro que não é dele para convencer os deputados -prática que também foi adotada por FHC no episódio
de sua reeleição e das privatizações
durante seu governo.
O propósito é igualmente nefasto. O
governo tenta corromper a Câmara
para fazer do Legislativo uma vaquinha de presépio capaz de ajudar o PT
a permanecer no poder os pretendidos 20 anos.
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