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TENDÊNCIAS/DEBATES
O projeto "Deus na escola" deve ser sancionado?
SIM
Uma boa influência
MARIA LÚCIA AMARY
ALUNOS AMEAÇAM professores, professores assassinados
na porta da escola, estudantes
levam armas e drogas para a sala de
aula... Esse tipo de acontecimento se
repete com uma freqüência preocupante, principalmente nas periferias,
e muitas vezes foge ao controle de
pais, mestres e autoridades.
Numa sociedade cujos valores se
invertem e na qual o respeito é assunto desconhecido, o que fazer? Atitudes positivas para restabelecer a ordem e apaziguar os ânimos são bem-vindas. A responsabilidade e o problema são de quem? De qualquer cidadão que entenda que não é possível
sentar e assistir à desestruturação de
gerações como mero espectadores.
Nem que seja pelo fato egoísta de
um dia não querer ser vítima desses
jovens que se perdem na desesperança, é preciso tomar uma atitude.
Percebi preocupada que o fato de
criar um projeto para instituir a entrada de "Deus" nas escolas estaduais
de São Paulo entre os alunos do ensino fundamental gerou polêmica,
quando não revolta.
De um lado, o apoio de quem entende que não se trata de imposição, mas
sim da oportunidade de oferecer conceitos de respeito, esperança, fé e
amor a uma geração amedrontada pela violência e pela impunidade.
Do outro, pais preocupados com "o
que os filhos vão ouvir sobre Deus?
Será que vão mudar os conceitos que
temos sobre a religião que escolhemos?". Ora, seria muita pretensão de
qualquer pessoa, ainda mais de um
político, escolher uma religião para
ser ensinada nas escolas.
"Deus na escola" não pretende catequizar ninguém. A intenção não é
gerar ou estimular conflitos religiosos, muito ao contrário. A justificativa
é clara quando estabelece o ensino religioso como área de conhecimento e
resgate de princípios éticos e morais,
como valorização do ser humano, respeito pela vida, convivência fraterna,
democracia e integridade. Isso independe de religião, mas, sem dúvida,
está ligado a uma crença de um ser supremo e criador e de um mundo perfeito e harmônico.
Um Estado laico não significa um
Estado sem Deus ou anti-religioso.
No preâmbulo da Constituição Federal de 1988, está escrito: "promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil."
O projeto não mexe de forma nenhuma na grade escolar. Portanto,
não é correto afirmar que ele é inconstitucional.
Um exemplo de que "Deus na escola" é viável está em Sorocaba, cidade
onde meu marido, Renato Amary, foi
prefeito por oito anos.
Um manual, cuidadosamente elaborado com a participação de representantes de vários seguimentos religiosos, é usado em escolas municipais
com êxito e aprovação. Até hoje, felizmente, ninguém se queixou por saber
que o filho está "aprendendo" sobre o
valor da família e a importância do
amor ao próximo.
Tentar impedir a entrada de "Deus
na escola" é, no mínimo, um ato antidemocrático. Se vivemos a violência e
a desestrutura de lares causadas por
más influências e descaminhos, por
que rejeitar a oportunidade "facultativa" de acesso a Deus?
Os pais ateus têm todo o direito de
orientar os filhos, se assim o desejarem, a não freqüentar as atividades ligadas ao projeto. Assim como outros
pais de qualquer religião o têm.
Sinceramente, não acredito em
prejuízo algum para a criança, pois,
hoje e sempre, Deus significará amor
e paz. A correria do dia-a-dia serve de
justificativa para muitos pais deixarem de lado o ensino de valores fundamentais às crianças.
Acredito em "Deus na escola", assim como acredito numa mudança de
atitude dos que, por preconceito, não
aceitam a idéia. Acredito também que
a nova geração, se bem influenciada,
será importante instrumento de modificação da própria família -para o
bem, é claro. Afinal, não poderia ser
de outra forma, em se tratando de
Deus.
MARIA LÚCIA AMARY, 56, mestre em direito constitucional e administrativo, é deputada estadual pelo PSDB e
líder do partido na Assembléia Legislativa de São Paulo. É
autora do projeto "Deus na escola".
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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