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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O terceiro elemento
SÃO PAULO - Haverá ou não segundo turno? A dúvida e a expectativa se instalaram num ambiente
em que preponderavam, há poucos
dias, a certeza de um lado e a resignação do outro. Vamos agora conviver com a interrogação e o novo
clima, provavelmente até domingo.
Numa disputa polarizada, vale
notar que a perda de fôlego da candidata petista não se traduziu, pelo
menos por ora, em mais votos para
seu maior adversário, José Serra.
É Marina Silva, a terceira força,
quem galvaniza a insatisfação de
setores sociais incomodados com
os descalabros na cozinha de Lula.
Isso, talvez, porque a campanha tucana tenha reforçado a grande
aversão a Serra ao tentar tirar tanto
leite da escandalização da política.
Marina atingiu no Datafolha 16%
dos votos válidos. Em 2006, mesmo
catapultada pelo trauma do mensalão, Heloísa Helena teve só 6,8%
dos votos válidos. Como a candidata do PSOL, a senadora verde também é uma dissidente do PT. Mas,
politicamente, elas são antípodas.
Heloísa foi uma espécie de Maria
Bonita do socialismo. Sua indignação moral era como a pimenta de
um discurso-pronto que misturava
luta de classes e messianismo.
Agora, com Plínio Sampaio, estamos assistindo à quixotização da
esquerda (ou dessa esquerda). Até
o candidato -o único propriamente midiático, sem existência real
além da TV- sabe que o país seria
convertido num cenário do "Ensaio
sobre a Cegueira" se metade de
suas "propostas" virasse realidade.
(Sim, "cego" é o colunista etc. etc.).
Marina é menos uma candidata
de esquerda do que uma representante das desilusões da esquerda (a
esquerda doutrinária do PSOL ou a
esquerda de resultados do lulismo).
Ela vocaliza anseios de um progressismo pós-ideológico (utópico mas
realista), que se traduz na aposta de
uma convergência entre PT e PSDB.
Ao mesmo tempo, Marina é uma
evangélica que faz, por exemplo,
restrições à pesquisa com células-tronco, o que a torna um caso muito
especial de iluminismo à brasileira.
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