São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

Censura não tem partido

BRASÍLIA - Um sinal claro do atraso institucional do país é a onda de censura à imprensa por meio judicial. Não há coloração partidária nesse movimento regressivo. Forças aliadas ao PT e ao PSDB recorrem ao expediente.
Na semana passada, foi o candidato ao governo de Tocantins pelo PMDB, Carlos Gaguim. Ele foi à Justiça e conseguiu censurar previamente a imprensa de seu Estado. Impediu a divulgação de uma investigação criminal na qual seu nome aparecia dezenas de vezes.
A pressão foi grande. O próprio Gaguim recuou, e o TRE tocantinense cumpriu seu dever e eliminou o desrespeito à Constituição. Nunca é demais lembrar que o candidato do PMDB em Tocantins é apoiado por Lula e por sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff.
Agora, surgiu outro caso. Seria algum petista ameaçando a liberdade de expressão? Nada disso. Trata-se de Beto Richa, um jovem tucano aliado de José Serra e um dos que supostamente modernizará o PSDB a partir do ano que vem.
Candidato ao governo do Paraná, Richa pediu à Justiça na semana passada que censurasse a divulgação de uma pesquisa do Datafolha no Estado. Alegou que o instituto não informa suas ponderações estatísticas. A ausência desse cálculo bizantino levou o juiz auxiliar do TRE paranaense Nicolau Konkel Júnior a atender ao tucano.
Não satisfeito, Richa pediu novamente a censura de uma outra pesquisa que está sendo realizada nesta semana pelo Datafolha. Novamente, o juiz Konkel Júnior decidiu a favor do tucano.
Os pedidos de Richa coincidiram com um momento delicado em sua campanha. Há cerca de dez dias ele passou a perder pontos para Osmar Dias (PDT). O tucano não teve pudor. Partiu para a censura. Ajuda assim a ilustrar como é generalizado e sem ideologia partidária o atraso mental no meio político brasileiro quando se trata de conviver com as diferenças ou más notícias.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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