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DESASTRE NA RÚSSIA
Foi desastrosa a operação militar russa para libertar as mais
de 700 pessoas que eram mantidas
reféns por um comando tchetcheno
num teatro de Moscou.
É claro que a decisão de não negociar com terroristas e a opção pela
tentativa de resgate são legítimas.
Várias nações afetadas pelo terror
mantêm a política de nunca negociar
com sequestradores. Argumentam
que aceitar exigências políticas impostas sob a mira de um revólver seria um incentivo a esse tipo de ação.
Na verdade, nem mesmo o número
de vítimas fatais contadas entre civis
-118 até o momento- pode ser visto como terrivelmente elevado, pois
não excede a marca de 20%. O problema da ação russa está na forma
como ela foi conduzida e, especialmente, divulgada.
Numa atitude que em muito lembra os sombrios tempos da URSS, as
autoridades russas tentaram, num
primeiro momento, esconder os aspectos negativos da ação. Divulgaram um número de baixas bem inferior ao real e cercaram tudo numa atmosfera de segredo. Parentes de feridos não foram autorizados a visitá-los nos hospitais moscovitas.
Mesmo quando ficou evidente que
a maioria das vítimas havia morrido
ou sido gravemente ferida pelo gás
utilizado pelos militares -e não por
tiros, como seria presumível-, o
Kremlin se recusou a informar qual o
produto empregado. Esse silêncio
absurdo pode ter custado mais vidas.
Não se deve desprezar a hipótese de
que a falta de informação impediu os
médicos de fornecer o tratamento
mais indicado aos doentes.
O comportamento das autoridades
russas autoriza as piores suspeitas,
inclusive a de que o gás utilizado seja
uma arma química proibida por tratados internacionais. Se o presidente
Vladimir Putin tinha a intenção de livrar-se da imagem de burocrata gestado nos corredores da extinta KGB,
onde trabalhou por 16 anos, esse episódio só serviu para reforçá-la.
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