São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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DESASTRE NA RÚSSIA

Foi desastrosa a operação militar russa para libertar as mais de 700 pessoas que eram mantidas reféns por um comando tchetcheno num teatro de Moscou.
É claro que a decisão de não negociar com terroristas e a opção pela tentativa de resgate são legítimas. Várias nações afetadas pelo terror mantêm a política de nunca negociar com sequestradores. Argumentam que aceitar exigências políticas impostas sob a mira de um revólver seria um incentivo a esse tipo de ação.
Na verdade, nem mesmo o número de vítimas fatais contadas entre civis -118 até o momento- pode ser visto como terrivelmente elevado, pois não excede a marca de 20%. O problema da ação russa está na forma como ela foi conduzida e, especialmente, divulgada.
Numa atitude que em muito lembra os sombrios tempos da URSS, as autoridades russas tentaram, num primeiro momento, esconder os aspectos negativos da ação. Divulgaram um número de baixas bem inferior ao real e cercaram tudo numa atmosfera de segredo. Parentes de feridos não foram autorizados a visitá-los nos hospitais moscovitas.
Mesmo quando ficou evidente que a maioria das vítimas havia morrido ou sido gravemente ferida pelo gás utilizado pelos militares -e não por tiros, como seria presumível-, o Kremlin se recusou a informar qual o produto empregado. Esse silêncio absurdo pode ter custado mais vidas. Não se deve desprezar a hipótese de que a falta de informação impediu os médicos de fornecer o tratamento mais indicado aos doentes.
O comportamento das autoridades russas autoriza as piores suspeitas, inclusive a de que o gás utilizado seja uma arma química proibida por tratados internacionais. Se o presidente Vladimir Putin tinha a intenção de livrar-se da imagem de burocrata gestado nos corredores da extinta KGB, onde trabalhou por 16 anos, esse episódio só serviu para reforçá-la.


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