UOL




São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTONIO DELFIM NETTO

Valorização do real

Na primeira semana do governo Lula, a taxa de câmbio andava por volta de R$ 3,54 por dólar. Estava terminando o período de grande agitação cambial iniciado em junho de 2002 e que atingiu o seu auge às vésperas da eleição, quando o mercado precificava a eventual vitória de Lula em R$ 4 por dólar. A escolha do ministro Palocci para a Fazenda e de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central e suas declarações reduziram a volatilidade do mercado. A partir de março de 2003, com as primeiras medidas monetárias (aumento da taxa de juros, maior controle da base monetária e a decisão de elevar para 4,25% o superávit primário), a taxa cambial iniciou um processo de baixa significativa até flutuar a partir de junho dentro de um intervalo relativamente estreito.
Na segunda semana de outubro, ela anda em torno de R$ 2,85. Devido ao efeito defasado da taxa de câmbio sobre as exportações e importações e sobre as "perspectivas exportadoras", é legítima a preocupação com essa valorização do câmbio em torno de 20%. Não estará ela (como é normal) respondendo mais aos fluxos de entrada e saída de capitais do que às necessidades da economia real? Não estaremos, outra vez, surfando sobre as oportunidades criadas por um movimento especulativo de capital de curto prazo -o famoso capital da morte súbita- que entra sem produzir nenhum efeito real, mas sai carregando um pedaço da produção nacional?
É muito difícil responder a essas perguntas. Talvez valha a pena olhar o que está acontecendo com o dólar no mercado mundial. Desde fevereiro de 2002, o dólar tem dado claros sinais de enfraquecimento. Ensaiou uma leve recuperação entre julho e setembro para reiniciar uma baixa que dura até a quarta semana de outubro.
Praticamente todas as moedas se valorizaram ante o dólar. A desvalorização do dólar no ano de 2003 até esta data é de mais ou menos 10%, medida como a taxa de câmbio média dos países que negociam com os EUA e ponderada pela importância desse comércio. Apenas para exemplificar: o peso chileno valorizou-se 10%; o euro, 10%; o dólar australiano, 19%; o iene japonês, 8%, e o peso argentino, 16%. O gráfico abaixo mostra a tendência (filtrada das variações diárias) da taxa real/dólar e a taxa de câmbio do dólar medida pela cesta de moedas:



Vemos um significativo co-movimento entre elas, o que sugere que a valorização do real (20%) neste ano se deve de um lado à desvalorização do dólar (10%) e de outro aos movimentos dos mercados (10%).

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Cipó das cinco
Próximo Texto: Frases

Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.