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ANTONIO DELFIM NETTO
Valorização do real
Na primeira semana do governo
Lula, a taxa de câmbio andava
por volta de R$ 3,54 por dólar. Estava
terminando o período de grande agitação cambial iniciado em junho de
2002 e que atingiu o seu auge às vésperas da eleição, quando o mercado precificava a eventual vitória de Lula em
R$ 4 por dólar. A escolha do ministro
Palocci para a Fazenda e de Henrique
Meirelles para a presidência do Banco
Central e suas declarações reduziram
a volatilidade do mercado. A partir de
março de 2003, com as primeiras medidas monetárias (aumento da taxa de
juros, maior controle da base monetária e a decisão de elevar para 4,25% o
superávit primário), a taxa cambial
iniciou um processo de baixa significativa até flutuar a partir de junho
dentro de um intervalo relativamente
estreito.
Na segunda semana de outubro, ela
anda em torno de R$ 2,85. Devido ao
efeito defasado da taxa de câmbio sobre as exportações e importações e sobre as "perspectivas exportadoras", é
legítima a preocupação com essa valorização do câmbio em torno de 20%.
Não estará ela (como é normal) respondendo mais aos fluxos de entrada
e saída de capitais do que às necessidades da economia real? Não estaremos,
outra vez, surfando sobre as oportunidades criadas por um movimento especulativo de capital de curto prazo
-o famoso capital da morte súbita-
que entra sem produzir nenhum efeito real, mas sai carregando um pedaço
da produção nacional?
É muito difícil responder a essas perguntas. Talvez valha a pena olhar o
que está acontecendo com o dólar no
mercado mundial. Desde fevereiro de
2002, o dólar tem dado claros sinais de
enfraquecimento. Ensaiou uma leve
recuperação entre julho e setembro
para reiniciar uma baixa que dura até
a quarta semana de outubro.
Praticamente todas as moedas se valorizaram ante o dólar. A desvalorização do dólar no ano de 2003 até esta
data é de mais ou menos 10%, medida
como a taxa de câmbio média dos países que negociam com os EUA e ponderada pela importância desse comércio. Apenas para exemplificar: o peso
chileno valorizou-se 10%; o euro, 10%;
o dólar australiano, 19%; o iene japonês, 8%, e o peso argentino, 16%. O
gráfico abaixo mostra a tendência (filtrada das variações diárias) da taxa
real/dólar e a taxa de câmbio do dólar
medida pela cesta de moedas:
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Vemos um significativo co-movimento entre elas, o que sugere que a
valorização do real (20%) neste ano se
deve de um lado à desvalorização do
dólar (10%) e de outro aos movimentos dos mercados (10%).
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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