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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Cipó das cinco

RIO DE JANEIRO - Natural ou provocado, o terremoto ministerial está levando a classe política -e a mídia que se interessa pelo assunto- à tradicional histeria de fim de ano. Não há compromisso constitucional ou pessoal de mudar ministros em dezembro ou janeiro, qualquer um deles pode ser trocado em qualquer época, mas convencionou-se que um novo ano deve trazer vida nova -e aí os interessados entram em ebulição, tanto na voz passiva como na voz ativa: os que não querem sair e os que desejam entrar.
Todos são cutucados pelas respectivas equipes. É evidente que o atual ministério, em linhas gerais, é fraco e até agora não convenceu. Alguns titulares (poucos) são realmente chegados a Lula, fazem parte da imagem histórica do presidente -e nem todos são exatamente do PT. Mas a maioria é mais ou menos sobra de guerra, derrotados na campanha eleitoral ou indicados pelas coligações que lhe deram vitória nas urnas.
Quem está de fora diverte-se com o espetáculo. Inúmeras cascas de banana são lançadas diariamente, os escorregões se sucedem e a bolsa de apostas cresce. Mais ou menos como nos tempos do regime militar, quando, no Ministério do Exército, se reunia o Alto Comando e dizia-se que "o cipó das cinco" já estava lotado com os gorilas que iriam desembarcar da nave que determinava o sol e a chuva na vida nacional.
Os ministros de hoje não podem ser comparados aos gorilas de ontem, mas o cipó continua dando sopa como veículo prioritário e barato para qualquer tipo de defenestração.
O mais curioso é que os entendidos já falam numa espécie de cipó-ônibus, onde todos estariam pendurados para a descarga geral do ministério com o pedido coletivo de renúncia "para facilitar as coisas".
Embora fraco, sujeito a chuvas e trovoadas, não é exatamente o ministério que está desgastando a imagem de Lula no governo.


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