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CARLOS HEITOR CONY
Cipó das cinco
RIO DE JANEIRO - Natural ou provocado, o terremoto ministerial está levando a classe política -e a mídia
que se interessa pelo assunto- à tradicional histeria de fim de ano. Não
há compromisso constitucional ou
pessoal de mudar ministros em dezembro ou janeiro, qualquer um deles pode ser trocado em qualquer época, mas convencionou-se que um novo ano deve trazer vida nova -e aí
os interessados entram em ebulição,
tanto na voz passiva como na voz ativa: os que não querem sair e os que
desejam entrar.
Todos são cutucados pelas respectivas equipes. É evidente que o atual
ministério, em linhas gerais, é fraco e
até agora não convenceu. Alguns titulares (poucos) são realmente chegados a Lula, fazem parte da imagem
histórica do presidente -e nem todos são exatamente do PT. Mas a
maioria é mais ou menos sobra de
guerra, derrotados na campanha
eleitoral ou indicados pelas coligações que lhe deram vitória nas urnas.
Quem está de fora diverte-se com o
espetáculo. Inúmeras cascas de banana são lançadas diariamente, os escorregões se sucedem e a bolsa de
apostas cresce. Mais ou menos como
nos tempos do regime militar, quando, no Ministério do Exército, se reunia o Alto Comando e dizia-se que "o
cipó das cinco" já estava lotado com
os gorilas que iriam desembarcar da
nave que determinava o sol e a chuva
na vida nacional.
Os ministros de hoje não podem ser
comparados aos gorilas de ontem,
mas o cipó continua dando sopa como veículo prioritário e barato para
qualquer tipo de defenestração.
O mais curioso é que os entendidos
já falam numa espécie de cipó-ônibus, onde todos estariam pendurados
para a descarga geral do ministério
com o pedido coletivo de renúncia
"para facilitar as coisas".
Embora fraco, sujeito a chuvas e
trovoadas, não é exatamente o ministério que está desgastando a imagem de Lula no governo.
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