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TENDÊNCIAS/DEBATES
O engenhoso Aznar
JORGE BORNHAUSEN
Modelo não . Não é o caso de copiar a Espanha, tão diversa do
Brasil. Mas a experiência do primeiro-ministro Aznar, pelo que representa de
avanços sociais e políticos, serve adequadamente como inspiração para uma
virada nas políticas sociais e econômicas brasileiras; qualquer coisa de realmente novo -como se esperava do PT,
que se revela anacrônico, como no culto
a Fidel, e primário, pela admiração por
Hugo Chávez.
Mas, além de representar o novo, Aznar também inspira eficácia. Principalmente no sentido de promover a felicidade do povo, começando com o combate sistemático ao desemprego, o primeiro indicador da eficácia de um governo moderno. Ora, emprego não é gerado por mágica, mas como afirmação
interna e externa do país, pelo desenvolvimento, pelo combate à corrupção e
por meio da prática exacerbada da democracia.
Que tal um país com juros bancários a
2% ao mês: desemprego em queda
-redução dos mais de 20% para os
atuais 8,6%; inflação de 2% ao ano; e
com 49,4% do orçamento público aplicados em educação, saúde, Previdência,
habitação?
Não foi por acaso, mas principalmente pela identificação com as idéias políticas firmes e as práticas realistas de governo de José María Aznar e seu partido, na Espanha, que o PFL aderiu à Internacional Democrata de Centro
(IDC), de que somos membros de pleno
direito.
A primeira lição de Aznar, e que nos
serve como uma luva, é a de que o poder
não é prêmio de loteria nem golpe de
malandragem publicitária, que se conquista difamando os adversários, apregoando princípios em que não se acredita e projetos que não se possui.
Aznar e seu PP construíram, a partir
da estaca zero, na oposição -como está
fazendo o PFL-, primeiro um partido
solidário e homogêneo (e isso não foi fácil na Espanha, com suas acentuadas e
orgulhosas regiões), depois um conjunto de idéias, conceitos e propostas tão
viáveis que puderam ser implantados
assim que chegaram ao poder, desbancando o que parecia impossível, Felipe
González e seu PSOE, de tão bela tradição. Algumas providências elementares
foram essenciais, como levar o povo espanhol à ruptura com preconceitos
ideológicos. Por exemplo: a ilusão, ainda muito forte no Brasil, de que toda inteligência é esquerdista e de que socialismo é sinônimo de ética e democracia,
sendo que a experiência mostra que, na
maioria das vezes, dá-se o contrário. A
tentação totalitária é sempre privilégio
do radicalismo, seja ele de esquerda ou
de direita.
A primeira lição de Aznar é a de que o poder não é prêmio de loteria nem golpe de malandragem publicitária
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Os mais insuspeitos analistas políticos
europeus acham -e me parece que estão absolutamente certos- que foi o binômio modernidade (expresso nessa
obsessão contra o desemprego) e democracia, pela demonstração diuturna
de respeito à liberdade e combate à corrupção, que tornou singulares e vitoriosos Aznar e seu PP.
Como se vê, um belo repertório, que
não se deve copiar ou imitar, mas que se
pode adotar, pela sequência de movimentos, pela hierarquia dos valores, pela lógica do encadeamento cronológico.
Tenho a honra de conhecer Aznar,
um expositor fluente, nada monótono e
que parece ter prazer em transferir suas
experiências, informações e preocupações, como aconteceu na reunião da
IDC, em junho, em Lisboa. Minha impressão é de que conseguiu, nos seus oito anos de governo, um equilíbrio ideal
entre o sonho e a realidade -a dura
realidade, que parece enfrentar e desafiar com algum toque de elegância quixotesca. Como se tivesse atribuindo a
esses moinhos de vento da realidade,
que precisa enfrentar, pois não tem alternativa, a visão de exércitos dignos da
espada do nosso amado Quixote, "el ingenioso hidalgo".
Tudo isso, como sempre costumo repetir quando exponho essas reflexões
nas reuniões do PFL, sem esquecer a
lembrança de Ortega y Gasset. Temos
de reduzir tudo às nossas circunstâncias. Para não corrermos riscos.
Santiago Dantas, uma das grandes
amizades do meu pai e de que muito
nos orgulhamos, gostava de lembrar, citando o mesmo Ortega y Gasset, das
meditações de Quixote: "Do querer ser
ao crer que já se é vai a distância do trágico ao cômico. Esse é o passo entre o
sublime e o ridículo".
Usando esses bons antídotos, igualmente ibéricos, para o pecado da simplificação e da má tradução, perigosíssimos na política, podemos trabalhar,
sem sustos, a boa inspiração de José
María Aznar. Ela nos serve cai uma luva.
Jorge Bornhausen, 66, senador pelo PFL-SC, é o
presidente nacional do partido.
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