São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ESPIONAGEM PRIVADA

A confirmarem-se as informações fornecidas pela Polícia Federal, novos elementos foram reunidos e deverão fortalecer as evidências de que a empresa Kroll Associates recorreu a procedimentos ilegais para investigar a companhia Telecom Italia. Como esta Folha revelou, em reportagem publicada em julho, a investigação foi encomendada à Kroll pelo empresário Daniel Dantas, cujo banco, o Opportunity, vem se digladiando com a Telecom Italia pelo controle da Brasil Telecom.
A operação da Polícia Federal, realizada em três Estados e no Distrito Federal, resultou na apreensão de computadores e equipamentos de escuta telefônica que podem confirmar os sinais já existentes de que a Kroll não se restringiu, como alegou em nota oficial, a conduzir uma investigação baseada em "análise de documentos públicos, entrevistas e conversas informais".
Há também indícios para sustentar a hipótese de que a empresa ultrapassou a esfera privada e investigou representantes do poder público -que, além de concedente do serviço de telefonia, é parte do negócio, uma vez que cinco fundos de pensão de estatais são acionistas da Brasil Telecom. Ao que tudo indica, foi violado o sigilo fiscal do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
A trama inscreve-se, portanto, num contexto de disputa de interesses privados em torno da esfera pública, território, como se sabe, especialmente propício a manobras irregulares e antiéticas.
Embora possua características próprias, é difícil crer que o caso seja um fato isolado. A espionagem, a confecção de dossiês, a chantagem e a extorsão parecem cada vez mais presentes nos bastidores do poder político e econômico do país.
Certamente que a necessária apuração das responsabilidades poderá criar algum efeito intimidador, mas é preciso também que a sociedade tenha mais garantias no que tange à rígida fiscalização de empresas voltadas para esse tipo de atividade.


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