São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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Pausa nos juros

Colapso no sistema de preços fundamentais e paralisia nas operações de crédito justificam que BC pare de elevar a Selic

A PÓS VIOLENTAS ondas de choque no patrimônio financeiro de famílias, empresas, bancos e governos -o que desencadeou quedas acentuadas nos preços dos diferentes ativos e contração geral do crédito-, as ordens de venda atingiram os emergentes. Ações, títulos de dívida e moedas dos países em desenvolvimento enfrentam forte desvalorização, apesar do refresco de ontem.
A perspectiva de desaceleração acentuada nos países ricos, envolvendo também os emergentes, derruba a hipótese do "descolamento". Alguns analistas diziam que as nações em desenvolvimento manteriam o ímpeto durante a crise -e até mesmo impulsionariam a economia global. Elas já foram contaminadas, no entanto, por meio de alguns canais de transmissão: aversão ao risco, diminuição do crédito, queda no preço das exportações.
Algumas variáveis cruciais da economia brasileira -menos vulnerável do que em outras turbulências mas bastante integrada às finanças globais- estão mergulhadas em incerteza. Duas são as incógnitas principais neste momento: qual será a cotação do real diante do dólar quando o pânico der lugar a uma crônica deterioração; e, também nesse cenário, qual será o comportamento da oferta e da demanda no mercado de crédito.
Sem segurança acerca desses fatores, empresas jogam na defensiva e modificam suas decisões sobre a produção corrente e a ampliação da capacidade produtiva no futuro. Anunciam férias coletivas para seus trabalhadores, adiam planos de investimento. A depender da disseminação dessas atitudes -o que por sua vez é diretamente proporcional ao tempo que durar o colapso no sistema de preços fundamentais-, o prejuízo para a capacidade de crescimento da economia brasileira pode ser importante.
As autoridades econômicas implementam um conjunto de medidas na tentativa de mitigar a propagação da crise. É o caso da redução dos depósitos que os bancos são obrigados a manter no Banco Central, da venda de moeda estrangeira para exportadores e da oferta de crédito para setores mais atingidos (agricultura e construção civil).
Nesse contexto de profunda incerteza -e para ser coerente com as decisões em curso que procuram incentivar a retomada das operações mais básicas de crédito-, o Conselho de Política Monetária do BC deveria alterar sua conduta na definição da taxa básica de juros. Uma interrupção no aumento da Selic, que vem subindo desde abril e está fixada em 13,75% ao ano, é o mínimo que se espera do Copom na reunião que termina hoje.
Uma combinação de fatores com alto grau de indeterminação -dólar mais alto, commodities mais baixas, crédito semiparalisado, efeito das elevações anteriores da Selic etc.- impossibilita que se perscrutem as tendências mais prováveis da atividade econômica e da inflação nos próximos meses. Por isso a decisão do Banco Central deveria ser pela prudência: uma pausa na elevação da Selic até que o cenário se desanuvie.


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