|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Conta salgada
Ambiente pré-eleitoral prejudica racionalidade em debate do pré-sal, que tende a impulsionar gastos de má qualidade
O ROTEIRO tomado pelas
discussões do novo
marco regulatório para a exploração de petróleo no país era previsível. Governo e congressistas ampliaram
a tendência para o gasto público
de má qualidade a partir do que
por ora é apenas uma promessa
de recursos novos: a atividade
petrolífera no chamado pré-sal.
A pressa da gestão Lula de
aprovar a legislação a tempo de
explorá-la na campanha contribui, assim, para minar um princípio corretamente acalentado
por uma parcela do Executivo: é
preciso evitar que o dinheiro do
petróleo se torne um novo catalisador da gastança dos governos.
O projeto enviado ao Congresso partilha, em alguma medida,
dessa preocupação. Propôs depositar todos os recursos obtidos
pela União com o pré-sal numa
espécie de poupança fiscal -chamada Fundo Social-, a ser aplicada, a juros, no exterior e no
país, em projetos de infraestrutura por exemplo. Um modo eficaz de contornar a comichão gastadora do governo seria autorizar o uso apenas do rendimento
desta poupança, nunca do principal, em despesas públicas.
Mas a ministra Dilma Rousseff, aspirante ao Planalto, não
pensa assim. É uma das defensoras do gasto a fundo perdido com
uma parcela dos recursos do pré-sal. Afirma que o Brasil tem carências sociais prementes e não
pode dar-se ao luxo de esperar
pelo rendimento do fundo -esquece-se de que setor público já
consome quase 40% do PIB.
A querela, de todo modo, foi
definida pelo relator do projeto
na Câmara, o deputado Antonio
Palocci (PT). O ex-ministro
abriu a porteira para a gastança
nos primeiros cinco anos de
constituição do fundo: nesse período, o dinheiro que entrar poderá, de imediato, financiar despesas de custeio.
Outra manobra, esta feita para
contentar Estados e municípios,
aumentou a parcela de royalties
destinada a esses entes federativos. A União, assim, terá menos
dinheiro para transferir ao Fundo Social -seja pelo efeito da redução de sua fatia nos royalties,
seja pela diminuição da parcela
do petróleo que, no regime de
partilha de produção, terá direito de dividir com as empresas
vencedoras das licitações.
A experiência mostra que a
tendência perdulária de Estados
e municípios, quando se trata de
recursos oriundos de royalties
de petróleo, é praticamente incontrolável. A esta altura, melhor seria postergar esses debates para depois das eleições -ou
vai faltar petróleo para cobrir
tanta voracidade pelo gasto.
Próximo Texto: Editoriais: O liceu e o crack
Índice
|