São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Editoriais

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O liceu e o crack

DA JANELA do Liceu Coração de Jesus, os alunos podem ver grupos de viciados em crack consumindo a droga na calçada em frente, em plena manhã. A imagem, registrada em reportagem publicada ontem por esta Folha, ilustra um problema social e de saúde pública crônico, associado por sua vez à deterioração de parte do centro de São Paulo.
A reportagem mostrava como o tradicional colégio dos padres salesianos, fundado em 1885, vem sofrendo os efeitos da degradação de seu entorno. Tinha 3.000 alunos há 30 anos; hoje conta com 288 e tem sido obrigado a fechar alguns cursos.
É simbólico e triste que Monteiro Lobato (1882-1948), o maior nome da nossa literatura infantil, tenha feito no Coração de Jesus parte de sua formação.
No destino incerto do liceu, estão entrelaçados o drama do crack e o estado de abandono da chamada cracolândia. São problemas associados, que demandam ações complementares, mas também discernimento daqueles que governam a respeito de urgências e prioridades.
A transformação da cracolândia na Nova Luz caminha muito lentamente. Formatado em 2005, o plano de recuperação previa a concessão de incentivos fiscais a empresas que se transferissem para lá. Das 23 habilitadas, só duas se mudaram.
Mais recentemente, a prefeitura conseguiu aprovar o instrumento da concessão urbanística, pelo qual transfere à iniciativa privada a responsabilidade pela desapropriação dos imóveis -cerca de 600 em 28 quarteirões- e a possibilidade de exploração comercial da área recuperada. Em contrapartida, as empresas devem fazer as intervenções públicas previstas no projeto. Se tudo correr conforme os prazos, as obras de revitalização começam em 2011.
Antes disso, parece óbvio, é urgente pôr em prática uma política mais efetiva de combate ao tráfico e um plano para recuperar os viciados, oferendo-lhes assistência.
A polícia, desde junho, tem provocado a dispersão dos usuários. Antes aglomerados, os viciados agora circulam pela região central, espalhados por Santa Cecília, Largo do Arouche, praça da República e Higienópolis. A sensação, por ora, é de que o problema só se espalhou.


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