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Editoriais
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O liceu e o crack
DA JANELA do Liceu Coração de Jesus, os alunos
podem ver grupos de viciados em crack consumindo a
droga na calçada em frente, em
plena manhã. A imagem, registrada em reportagem publicada
ontem por esta Folha, ilustra
um problema social e de saúde
pública crônico, associado por
sua vez à deterioração de parte
do centro de São Paulo.
A reportagem mostrava como
o tradicional colégio dos padres
salesianos, fundado em 1885,
vem sofrendo os efeitos da degradação de seu entorno. Tinha
3.000 alunos há 30 anos; hoje
conta com 288 e tem sido obrigado a fechar alguns cursos.
É simbólico e triste que Monteiro Lobato (1882-1948), o
maior nome da nossa literatura
infantil, tenha feito no Coração
de Jesus parte de sua formação.
No destino incerto do liceu, estão entrelaçados o drama do
crack e o estado de abandono da
chamada cracolândia. São problemas associados, que demandam ações complementares,
mas também discernimento daqueles que governam a respeito
de urgências e prioridades.
A transformação da cracolândia na Nova Luz caminha muito
lentamente. Formatado em
2005, o plano de recuperação
previa a concessão de incentivos
fiscais a empresas que se transferissem para lá. Das 23 habilitadas, só duas se mudaram.
Mais recentemente, a prefeitura conseguiu aprovar o instrumento da concessão urbanística,
pelo qual transfere à iniciativa
privada a responsabilidade pela
desapropriação dos imóveis
-cerca de 600 em 28 quarteirões- e a possibilidade de exploração comercial da área recuperada. Em contrapartida, as empresas devem fazer as intervenções públicas previstas no projeto. Se tudo correr conforme os
prazos, as obras de revitalização
começam em 2011.
Antes disso, parece óbvio, é urgente pôr em prática uma política mais efetiva de combate ao
tráfico e um plano para recuperar os viciados, oferendo-lhes assistência.
A polícia, desde junho, tem
provocado a dispersão dos usuários. Antes aglomerados, os viciados agora circulam pela região central, espalhados por Santa Cecília, Largo do Arouche,
praça da República e Higienópolis. A sensação, por ora, é de que
o problema só se espalhou.
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