São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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De Kirchner a Kirchner

O ex-presidente Néstor Kirchner deixa a cena argentina como nela se projetou, de modo imprevisto. A morte súbita aos 60 anos encerra um período surpreendente da história da nação vizinha, quando foram grandes os obstáculos para que se reerguesse.
Governador por três vezes da remota Província de Santa Cruz, chegou à Casa Rosada com apenas um quinto dos votos, em 2003. Surpreendeu o país e o mundo.
A Argentina mal começava a recuperar-se da crise devastadora de 2001. Kirchner logrou o improvável: unificou o peronismo, rompeu com o FMI, renegociou a dívida externa e derrubou pela metade o desemprego, que alcançara 21,5%. Com temperamento conflitivo, arrostou a Suprema Corte para renová-la, taxou exportações do poderoso estamento rural e enfrentou um locaute nacional.
Com a autoridade adquirida, enveredou na senda populista, ressuscitando, sob os escombros da aplicação canina das receitas ultraliberais, o vocabulário do esquerdismo da década de 1970.
Em lance de astúcia, elegeu como sucessora a própria mulher, Cristina Fernández de Kirchner. Preparava-se para se candidatar à Presidência em 2011, depois de ter sofrido derrota importante, em 2009, na disputa ao Senado.
Assim como Néstor não foi Perón, Cristina não é Evita. Senadora com carreira e brilho próprios, manteve com o marido consórcio de poder que tendia mais à simbiose que à coadjuvação.
Cristina reúne condições para manter-se no comando da Argentina e concorrer à reeleição. Dificilmente, contudo, poderá ir adiante sem negociar e repartir o poder -agora que o estrategista desapareceu.


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