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De Kirchner a Kirchner
O ex-presidente Néstor Kirchner deixa a cena argentina como
nela se projetou, de modo imprevisto. A morte súbita aos 60 anos
encerra um período surpreendente da história da nação vizinha,
quando foram grandes os obstáculos para que se reerguesse.
Governador por três vezes da remota Província de Santa Cruz,
chegou à Casa Rosada com apenas um quinto dos votos, em 2003.
Surpreendeu o país e o mundo.
A Argentina mal começava a recuperar-se da crise devastadora
de 2001. Kirchner logrou o improvável: unificou o peronismo, rompeu com o FMI, renegociou a dívida externa e derrubou pela metade o desemprego, que alcançara
21,5%. Com temperamento conflitivo, arrostou a Suprema Corte para renová-la, taxou exportações
do poderoso estamento rural e enfrentou um locaute nacional.
Com a autoridade adquirida,
enveredou na senda populista,
ressuscitando, sob os escombros
da aplicação canina das receitas
ultraliberais, o vocabulário do esquerdismo da década de 1970.
Em lance de astúcia, elegeu como sucessora a própria mulher,
Cristina Fernández de Kirchner.
Preparava-se para se candidatar à
Presidência em 2011, depois de ter
sofrido derrota importante, em
2009, na disputa ao Senado.
Assim como Néstor não foi Perón, Cristina não é Evita. Senadora
com carreira e brilho próprios,
manteve com o marido consórcio
de poder que tendia mais à simbiose que à coadjuvação.
Cristina reúne condições para
manter-se no comando da Argentina e concorrer à reeleição. Dificilmente, contudo, poderá ir
adiante sem negociar e repartir o
poder -agora que o estrategista
desapareceu.
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