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CAUTELA COM O IRÃ
Os governos da França, da
Alemanha e do Reino Unido
persuadiram os EUA a desistir de
uma posição mais dura contra o Irã
por conta de irregularidades em seu
programa nuclear. Depois de semanas de negociações, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
aprovou uma resolução que "deplora
fortemente" o fato de o Irã ter escondido iniciativas para enriquecer urânio e reprocessar plutônio, mas evitou encaminhar o caso para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que poderia ter determinado
sanções econômicas contra Teerã.
A decisão parece acertada. Radicalizar agora contra o Irã poderia produzir efeitos opostos aos desejados.
É verdade que Teerã tentou ludibriar
a AIEA e fugir de suas responsabilidades como país signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear
(TPN), o que constitui falta grave.
Não se podem ignorar, porém, peculiaridades políticas do país centro-asiático.
O poder no Irã está dividido entre o
governo do reformista presidente
Mohamad Khatami e os clérigos
conservadores liderados pelo aiatolá
Ali Khamenei. Sob muitos aspectos,
são os religiosos que mandam. E são
eles, e não o governo, que acalentam
sonhos de tornar o Irã em breve uma
potência nuclear. Sanções mais duras agora poderiam reforçar a posição belicista dos conservadores.
Dito isso, é preciso, mais uma vez,
apontar para a hipocrisia que marca
a política antinuclear do mundo. Por
circunstâncias da história, criou-se
uma regra que pretende dar apenas
aos EUA, à Rússia, ao Reino Unido, à
França e à China, as potências vencedoras da Segunda Guerra, o direito
legal de possuir armas atômicas. E
nem essa norma -já pouco democrática- é seguida, pois o mundo
tolera que Israel, a Índia e o Paquistão mantenham extra-oficialmente
arsenais atômicos.
Em termos ideais, seria de se cogitar um novo tratado prevendo a destruição progressiva dos arsenais nucleares do planeta. Pode ser apenas
um sonho -mas é certamente um
belo sonho.
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