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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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CAUTELA COM O IRÃ

Os governos da França, da Alemanha e do Reino Unido persuadiram os EUA a desistir de uma posição mais dura contra o Irã por conta de irregularidades em seu programa nuclear. Depois de semanas de negociações, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovou uma resolução que "deplora fortemente" o fato de o Irã ter escondido iniciativas para enriquecer urânio e reprocessar plutônio, mas evitou encaminhar o caso para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que poderia ter determinado sanções econômicas contra Teerã.
A decisão parece acertada. Radicalizar agora contra o Irã poderia produzir efeitos opostos aos desejados. É verdade que Teerã tentou ludibriar a AIEA e fugir de suas responsabilidades como país signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN), o que constitui falta grave. Não se podem ignorar, porém, peculiaridades políticas do país centro-asiático.
O poder no Irã está dividido entre o governo do reformista presidente Mohamad Khatami e os clérigos conservadores liderados pelo aiatolá Ali Khamenei. Sob muitos aspectos, são os religiosos que mandam. E são eles, e não o governo, que acalentam sonhos de tornar o Irã em breve uma potência nuclear. Sanções mais duras agora poderiam reforçar a posição belicista dos conservadores.
Dito isso, é preciso, mais uma vez, apontar para a hipocrisia que marca a política antinuclear do mundo. Por circunstâncias da história, criou-se uma regra que pretende dar apenas aos EUA, à Rússia, ao Reino Unido, à França e à China, as potências vencedoras da Segunda Guerra, o direito legal de possuir armas atômicas. E nem essa norma -já pouco democrática- é seguida, pois o mundo tolera que Israel, a Índia e o Paquistão mantenham extra-oficialmente arsenais atômicos.
Em termos ideais, seria de se cogitar um novo tratado prevendo a destruição progressiva dos arsenais nucleares do planeta. Pode ser apenas um sonho -mas é certamente um belo sonho.


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