São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 2005

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TRÉGUA NO PLANALTO

Os ministros Antonio Palocci Filho e Dilma Rousseff reuniram-se ontem para selar os termos de uma trégua que permita a convivência de ambos no governo. Os atritos haviam chegado ao ponto de interromper as relações entre os dois, que mal se falavam. Considerando a posição que ocupam, o prolongamento de uma situação como essa seria insustentável. Um dos dois teria que deixar o ministério.
Ao que se noticia, no encontro, o titular da Fazenda fez prevalecer sua posição favorável a um superávit primário neste ano acima da meta de 4,25%. Em contrapartida, a ministra da Casa Civil obteve a promessa de liberação de mais recursos para os ministérios já no início de 2006.
Apenas no plano das idéias, a ministra Dilma Rousseff não deixa de ter razão ao apontar contradições entre a política de juros elevados e o esforço do setor público para obter saldos em suas contas que reduzam a relação entre o montante da dívida pública e o PIB. Com efeito, juros mais altos aumentam o endividamento e exigem mais economia do governo -o que restringe ainda mais os investimentos públicos.
Na prática, porém, as críticas da ministra a Palocci, além de feitas de maneira desastrada, parecem ter traduzido sobretudo a movimentação política com vistas às eleições: todos -inclusive o presidente- querem gastar mais, sejam gastos que possam ser considerados "bons", sejam os meramente eleitoreiros. Nesse contexto, a manutenção de Palocci tornou-se a garantia de que um mínimo de responsabilidade fiscal será preservado na Fazenda.
Embora as diferenças permaneçam, o acordo poderá ser benéfico para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele mantém no cargo o ministro preferido da oposição e dos mercados, mas o leva a fazer alguma concessão sob a forma de mais verbas e obras eleitorais. É cedo, porém, para avaliações definitivas. Palocci enfrenta problemas nas CPIs e nada garante que Lula continuará sendo bem-sucedido em administrar as divergências entre os dois ministros.


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