São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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No clube de Chávez

RAFAEL CORREA, da esquerda nacionalista, foi eleito no domingo presidente do Equador. Ele será o oitavo mandatário a assumir o poder nos últimos dez anos, o que dá bem a medida do grau de instabilidade política reinante no país andino.
Para escapar dessa sina de deposições em série, Correa conta com a larga vantagem obtida nas urnas sobre seu rival, o liberal-conservador Alvaro Noboa. Dissipa-se, assim, o cenário de impasse eleitoral como o mexicano, mas não o de uma Presidência problemática no Equador.
O partido de Correa, o recém-criado Alianza País, não elegeu nenhum deputado. Para sustentar a bandeira de seu candidato majoritário, de atacar a "política tradicional", a sigla não lançou postulantes ao Congresso. É quase certo, portanto, que o presidente eleito, seguindo os passos do venezuelano Hugo Chávez, de quem é admirador e amigo, convocará uma Assembléia Constituinte, a qual poderá tentar dissolver o Parlamento. Tal medida arrancaria aplausos no Equador: 90% dos eleitores reprovam o atual Congresso.
Ao longo da campanha, Correa mostrou duas faces. No primeiro turno adotou discurso radical, prometendo romper com o FMI e renegociar contratos de petróleo -inclusive com a Petrobras. No segundo escrutínio, moderou o tom. Rejeitou desdolarizar a economia e deu declarações visando agradar a investidores.
É cedo para dizer qual Correa prevalecerá. O mais provável é que, a exemplo de Evo Morales, na Bolívia, aja como um nacionalista populista para o público interno, e, para o externo, mostre-se mais flexível e conciliador. De todo modo, a diplomacia brasileira, escaldada com o caso boliviano e o venezuelano, deve preparar-se para enfrentar percalços, advindos da recidiva regional do caudilhismo antiimperialista, também no Equador.


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