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CARLOS HEITOR CONY
Palavras demais
RIO DE JANEIRO - Deus conseguiu criar o mundo com apenas
duas palavras: "fiat lux!" (o ponto de
exclamação não conta, é um sinal
gráfico, e não uma palavra). Para
explicar a necessidade da prorrogação da CPMF, Lula e a turma do governo já gastaram mais de um bilhão de palavras -e o resultado está
longe de ser luminoso, possibilitando a separação das terras e das
águas, a criação do Sol, das estrelas
no céu e dos pássaros na Terra. De
quebra, do boneco de barro do qual
tirou uma costela e tudo começou.
O pesquisador canadense Jonathan Schaeffer acredita que os computadores podem mais do que
Deus, sem necessidade de usar nem
mesmo duas palavras. Para jogar
damas, um computador modesto
tem 500 quintilhões de soluções
possíveis. Para se ter idéia, 500
quintilhões é um 5 seguido de 20
zeros. Para jogar xadrez, as soluções
envolvem um 1 seguido de 51 zeros.
Troço pra burro. E sem necessidade
de uma única palavra.
Os alfabetos das línguas do mundo têm a média de 20 e tantas letras
ou signos. As combinações possíveis resultam num astronômico
número que nem sei expressar. E
todas elas servem para muitas coisas, principalmente para esconder
o pensamento. O homem torna-se
vítima de um tsunami de palavras.
Não sou entendido em jogo de damas nem em xadrez, mas acho que a
vida é um jogo bem mais complexo,
não tem tabuleiro nem peças com
valores definidos. No dia-a-dia do
homem comum, um peão pode valer um cavalo, e um bispo pode ser
rainha. A vantagem do xadrez e das
damas é que são jogados em silêncio, as coisas ficam valendo por si
mesmas.
Na vida real, tudo é mais complicado, porque entram em cena as palavras, cuja finalidade maior é confundir o que já é confuso. A luz,
quando é feita, torna maior a
escuridão.
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