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ELIANE CANTANHÊDE
Chávez e as Farc
BRASÍLIA - Com as crises internas na Venezuela e na Bolívia, marcadas por grandes manifestações e
até mortes, talvez estejamos subestimando uma ameaça bem mais
grave: o recrudescimento do confronto entre a Venezuela e a Colômbia. Crises internas são mau sinal. Crises entre países são piores.
O Planalto e o Itamaraty insistem
em dizer que está tudo bem e em
achar que Hugo Chávez cutuca o
colombiano Álvaro Uribe só para se
fortalecer internamente. Mas setores militares e de inteligência não
estão tão tranqüilos assim. A beligerância entre Venezuela e Colômbia
tem um peso geopolítico.
Os dois são os antípodas da América do Sul. Chávez, com seu "socialismo bolivariano", é adversário
frontal dos EUA e de Bush. Uribe,
fiel à cartilha neoliberal, é o mais
confiável aliado de Washington. E
ambos se alimentam das disputas
históricas entre seus países.
Pode ser paranóia de milico, mas
algumas boas patentes têm certeza
de que Chávez não tentou de fato
mediar uma negociação para Uribe
soltar 500 presos das Farc em troca
de 45 seqüestrados do grupo guerrilheiro. Teria só arranjado um pretexto para meter a mão -e os pés-
na política interna colombiana.
Não, claro, a favor de Uribe.
O temor é que Chávez patrocine
um candidato de esquerda, com
apoio das Farc, para disputar as
eleições de 2010 contra Uribe e,
portanto, contra os EUA. A soma do
petróleo venezuelano com as drogas colombianas seria bilionária. E
quem gostaria de um governo das
Farc dentro da América do Sul?
Apesar dos tanques, rifles, aviões
e submarinos nucleares russos de
Chávez, o governo brasileiro acha
que ele não chegaria a tanto, não se
meteria a besta com os EUA. Mas
Chávez atuou abertamente nas
eleições do Peru, da Bolívia e do
Equador, pelo menos, e já ameaçou
intervir caso derrubem Morales.
Então, é como as bruxas: ninguém
crê, mas que ele pode, lá isso pode.
elianec@uol.com.br
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