São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Clima alentador

China e EUA anunciam metas para combater o aquecimento global e revivem expectativa de acordo em Copenhague

COPENHAGUE, afinal, pode sair menos ruim que a encomenda. Quando já se contava com um fiasco da conferência sobre mudança do clima, que começa daqui a uma semana na capital dinamarquesa, surgem sinais animadores de que um acordo razoável possa ser obtido. Limitado, mas melhor que acordo nenhum.
Já se sabe que não será aprovado um tratado forte, com compromissos legais dos países para redução de gases do efeito estufa. Essa era a expectativa anterior: algo mais ambicioso que o Protocolo de Kyoto (1997), fracassado, que determinava corte médio de 5,2% nas emissões só das nações desenvolvidas. O compromisso obtido em Copenhague será apenas "politicamente vinculante".
O novo acordo precisa ir muito além de Kyoto, se a meta for impedir que o aumento da temperatura média da atmosfera ultrapasse 2C de aquecimento neste século, como recomenda a maioria dos climatologistas. Isso exige dos países desenvolvidos chegar a 2020 emitindo 25% a 40% menos poluentes que em 1990, ano-base de Kyoto.
Os países menos desenvolvidos, por seu turno, precisam desacelerar a trajetória crescente de suas emissões. Estima-se que seja necessário um corte de 15% a 30%, aplicados no caso sobre os níveis que estariam emitindo em 2020, mantido o ritmo atual. A ideia é que a redução não prejudique seu esforço de desenvolvimento e redução da pobreza.
Os sinais alentadores surgidos na semana partiram dos EUA e da China. Juntos, respondem por 40% das emissões mundiais.
O presidente Barack Obama anunciou que vai a Copenhague e que se compromete com um corte de 17% até 2020, mas sobre os níveis de 2005. Isso corresponde a uma redução de meros 3% a 6% sobre 1990 -praticamente a meta que os EUA deveriam alcançar em 2012, se tivessem ratificado Kyoto. É quase nada se comparados aos 20% a 30% sobre 1990 oferecidos pela União Europeia.
A China também lançou números na mesa. O premiê Wen Jiabao apresentou o objetivo do país seguindo uma terceira métrica: até 2020, reduzir de 40% a 45% a intensidade carbônica da economia, ou seja, a quantidade de gases do efeito estufa emitida por unidade do PIB, com base em 2005. Na prática, isso significa que, apesar da desaceleração, a China de 2020 estará emitindo mais em números absolutos.
Melhor figura faz o Brasil, cujo compromisso anunciado há duas semanas -desvio de 36% a 39% para menos na trajetória de crescimento das emissões- implica redução efetiva em relação ao presente. Com a divulgação do novo inventário de gases do efeito estufa, tal meta brasileira agora se traduz como um corte absoluto de 25% sobre 2005.
Esse cipoal de números, anos-base e critérios torna complexa a discussão em Copenhague, mas não a inviabiliza.
O fato de as cifras virem à tona antes da conferência é um outro sinal alentador. Elas criam um piso de negociação, sobre o qual deverão ocorrer novas concessões, aproximando os cortes daquilo que a ciência sugere ser preciso para afastar o risco de uma mudança ameaçadora do clima do planeta.


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