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Inflação à vista
Elevação de preços vai além do setor de alimentos, causa apreensões e surge como primeiro desafio para a equipe do próximo governo
O presidente indicado do Banco
Central, Alexandre Tombini, assumirá suas funções no início de
2011, após ser sabatinado pelo Senado. Enfrentará na sua chegada
a difícil tarefa de combater uma
nova ameaça inflacionária.
A alta de 0,86% do IPCA-15 de
novembro na última terça-feira,
muito acima do esperado pelos
analistas, foi o estopim para uma
reavaliação das perspectivas para
política monetária em 2011. Até
então, a expectativa dominante
era a de que o Comitê de Política
Monetária (Copom) teria de subir
os juros, mas apenas a partir do
segundo trimestre. Já está no ar,
no entanto, a possibilidade de que
a taxa seja elevada na primeira
reunião do ano, em janeiro.
Ao contrário do primeiro semestre de 2008, quando o país passou
por um surto inflacionário decorrente do aumento dos preços de
alimentos, insumos agrícolas, petróleo e minerais metálicos, desta
vez os riscos são diferentes. O que
distingue o momento atual é a situação do mercado de trabalho.
Em 2008 havia ociosidade na economia e o processo inflacionário
não teve meios de se disseminar.
Agora o quadro é outro. Na última semana o IBGE divulgou que o
desemprego atingiu 6,1% em outubro, a taxa mais baixa da série,
um resultado excepcional. O aumento do emprego se reflete em
melhores salários -a massa de
renda (que representa o poder de
compra da população) cresceu
10% em termos reais (descontada
a inflação) em relação ao mesmo
mês de 2009. É daí que provém a
força do consumo, que cresce a taxas de dois dígitos.
Infelizmente, essa expansão
não tem sido acompanhada pelo
crescimento correspondente da
oferta -e tende a se refletir nos índices de preços. Nos últimos meses estímulos mais estruturais de
aumento da inflação têm se manifestado de maneira constante.
A inflação de serviços já supera
7,5% nos últimos 12 meses e todas
as medidas do núcleo da inflação
(que exclui os itens mais voláteis)
se aproximam de 5,5%. A alta dos
preços de alimentos, que no início
do ano foi protagonista da inflação, é agora um fator que se soma
a uma deterioração mais geral.
Em meados do ano o Banco
Central decidiu encerrar o ciclo de
alta de juros -depois de corrigir a
Selic para 10,75%- em função das
incertezas externas e da perda de
ritmo da produção industrial no
segundo trimestre. Como o surto
de alta dos alimentos do início do
ano também se reverteu no segundo trimestre, houve certa tranquilidade -que agora vai sendo substituída por apreensões.
A ameaça precisa ser considerada seriamente. Não são corretas
nem oportunas as declarações de
autoridades, especialmente no
Ministério da Fazenda, de que a
alta de preços ocorre apenas nos
alimentos. A persistência é da natureza da inflação de serviços:
uma vez instaurada, o combate é
difícil e custoso.
É hora também da tão prometida colaboração da Fazenda com o
BC, na forma de mais austeridade
nas finanças do Estado e controle
do crédito público, para que a tarefa de recolocar a inflação na meta não recaia apenas em elevações
da taxa básica de juros.
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