São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Com moderação

O futuro secretário da Saúde do governo Geraldo Alckmin, Giovanni Guido Cerri, disse, em entrevista à Folha, que pretende fazer do combate ao abuso do álcool uma prioridade de sua gestão.
Diretor da Faculdade de Medicina da USP e do Icesp (Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira), Cerri afirma que "não se trata de criar uma lei seca, mas de mostrar o problema à sociedade e liderar uma reação" -o que exigiria ações educativas. "É por causa da educação que hoje jovens pressionam os pais a parar de fumar. Houve uma mudança de pensamento que ainda não ocorreu em relação ao álcool."
O contraponto faz sentido. Segundo especialistas, no Brasil o custo social do álcool é maior do que o do tabaco -nos EUA, por exemplo, ocorre o contrário. Uma das explicações seria o fato de o mercado de bebidas alcoólicas ser pouco regulado no país.
Um estudo do Ministério da Saúde estimou, entre 2000 e 2006, uma média de 57 mortes por dia em decorrência de doenças crônicas associadas ao consumo de álcool. Somam-se a elas acidentes de trânsito, homicídios, violência doméstica e casos de menores que fogem de casa, entre outros problemas sociais e/ou de saúde que têm intersecção com a ingestão abusiva de álcool.
Psiquiatras especializados no assunto insistem que políticas públicas devem combater tanto a dependência do álcool como os transtornos derivados do uso da bebida por quem não é alcoólatra.
Campanhas educativas são úteis, mas dificilmente uma ofensiva contra o alcoolismo se resumirá a elas. O mais provável é que, seguindo a experiência antitabagista, as propostas entrem no território das restrições à publicidade e à venda de bebidas. São aspectos a levar em conta, que mereceriam maior debate público.
Deve-se evitar, porém, que as razões invocadas em nome da saúde pública venham atropelar direitos e liberdades individuais. Contra a tentação dos excessos por parte do Estado, vale aqui a recomendação que se faz ao consumidor: legisle com moderação.


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