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Memória e olvido
CLÓVIS ROSSI
Santiago - Entre as incontáveis reflexões despertadas pelo caso do general
Augusto Pinochet, resgato uma que
pode ser aplicada ao Brasil.
Seu autor é o escritor chileno Jorge
Edwards, em artigo publicado quinta-feira pelo jornal espanhol "El País".
O trecho que mais remete ao Brasil:
"As saídas de ditaduras só se podem
realizar, ao menos quando são pacíficas, graças a uma sábia dosagem entre
a memória e o esquecimento. (...) Pois
bem, é provável que, no Chile, a dose
de olvido tenha estado demasiadamente acima da dose de memória".
Se entendi bem, Edwards deve estar
querendo dizer que, para livrar-se de
uma ditadura feroz que parecia eternizar-se, boa parte dos chilenos optou
por esquecer os crimes do período militar e tocar a vida para a frente.
Suponho que seria mais que razoável dizer-se que, no Brasil, a dose de
esquecimento conseguiu ser ainda
mais formidável do que no Chile. Basta lembrar que a Justiça chilena pôs
na cadeia ninguém menos que o general Manuel Contreras, chefe da polícia
política da ditadura. Para o meu gosto, é muito pouco, mas, de todo modo,
é mais que no Brasil.
Não me lembro de nenhum agente
do aparato repressivo brasileiro que
tenha ido parar na cadeia. O contra-argumento é o de que houve uma
anistia, mas a comparação é de novo
desfavorável, posto que, no Chile,
também houve anistia, mas limitada
no período que cobre.
Mais: ao trocar a ditadura pela democracia, o Chile trocou igualmente
de equipes governantes. Não há, aqui,
membros dos partidos que defenderam (e ainda defendem) a ditadura
participando do governo.
No Brasil, eu precisaria de umas 50
colunas iguais à esta para listar todos
os que estavam com o governo, no regime militar, e continuam com o governo, na democracia.
Não, não estou cobrando vingança.
Só menos esquecimento e um pouquinho mais de memória.
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