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Globalizaram o Pinochet
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Dizem que a globalização é
inevitável, veio para ficar. Então, que
ela atinja tudo e todos. O sangrento
ex-ditador Augusto Pinochet, por
exemplo, está sendo devidamente globalizado.
Se o mundo já fala em inglês, negocia em dólar, produz empresas sem
pátria, concentra lucros e divide prejuízos, que prossiga agora eliminando
a nacionalidade - e a impunidade-
de ditadores e tiranos em geral.
Pinochet é responsável pela morte de
3.000 homens, mulheres e jovens, inclusive de estrangeiros e de pelo menos
cinco brasileiros no Chile.
Sem falar em Maria Regina Marcondes Pinto, sequestrada na Argentina
com o filho de um ex-ministro de Salvador Allende (o presidente constitucional deposto por Pinochet). Nunca
mais foram vistos.
Pinochet se julgou acima das leis,
das normas e dos princípios humanitários. Não teve escrúpulos ao globalizar a barbárie e perseguir até mesmo
os que tinham imunidade diplomática. Sobreviveu a governos e processos.
Não que se defenda aqui a lei do
"olho por olho, dente por dente", mas
deixar que formalidades se imponham
sobre a necessidade de justiça não dá.
Fala-se em não-intervenção nos assuntos internos dos países. Critica-se
também uma pretensa arrogância dos
países desenvolvidos sobre os "emergentes".
Nada disso cola. É como o sujeito
que não chama a polícia enquanto o
vizinho espanca o filho à morte. Em
nome da boa vizinhança, ele lava as
mãos. Em respeito à privacidade, torna-se cúmplice.
Países se unem em blocos econômicos, criam parâmetros comuns de déficit, inflação, desemprego. Implodem
fronteiras, adotam moedas únicas.
Como virar as costas e fingir que
ninguém viu? O mundo viu e sofreu
com o sangue derramado no Chile. A
barbárie, ali, não foi nacional. A punição é uma responsabilidade global.
E logo, porque Pinochet tem 83 anos.
A Declaração Universal dos Direitos
Humanos faz 50 anos no dia 10 de dezembro. Bom momento para trocar de
nome. Que tal Declaração Globalizada dos Direitos Humanos?
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