São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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PAINEL DO LEITOR

Privatização e grampo

"Os responsáveis pelo grampo são criminosos e devem ser punidos, mas por que não se pode duvidar da lisura no processo de privatização da Telebrás? Se ele foi tão perfeito, não há o que temer. O próprio governo assinou um atestado de incompetência ao comprar 25% da Tele Norte Leste, por considerar o consórcio vencedor inapto para gerir o negócio.
Se a Telemar não tinha condições de assumir o controle do patinho feio das teles, como recebeu aprovação do mesmo governo para participar do leilão da única privatização estatizada do mundo? O melhor remédio contra intrigas e suspeitas é a investigação!"
Alexandre Mata Tortoriello (São Paulo, SP)

Crise

"É lamentável a situação econômica do Brasil, que acaba atingindo toda uma classe social que depende de um salário digno para sustentar o lar.
A crise financeira afeta um país em que mais de 50% da população ganha menos de três salários mínimos e se desdobra para pagar suas despesas. Enquanto isso, juízes e deputados "nadam' no dinheiro e nada fazem em prol das classes menos favorecidas.
A época eleitoral já passou, os representantes de nosso país já foram escolhidos, e as promessas, provavelmente esquecidas. Mais uma vez o povo batalha na "busca pela sobrevivência', equilibrando-se na corda bamba dos pacotes econômicos."
Fabiana Mena de Souza (São Paulo, SP)

FMI

"Os países asiáticos, socorridos pelo FMI, foram obrigados a adotar políticas de restrição de gastos e reduziram, em consequência, os serviços sociais oferecidos pelo Estado. Resultou dessas políticas o desemprego, que afetou as famílias e empurrou crianças para fora das escolas, na busca do dinheiro da economia informal.
As mulheres, primeiras a ser demitidas e mais distantes das oportunidades, engrossaram as estatísticas da violência doméstica e da prostituição. Será isso que se pretende para o Brasil?"
Adauto Elias Moreira (Paraguaçu Paulista, SP)

O salvador

"FFHH (loas ao genial Elio Gaspari) é um dos governantes mais hipócritas que já tivemos. Suas políticas criam os problemas e, quando isso ocorre, é ele mesmo quem se apresenta como o único apto a resolvê-los.
Para vencer as "resistências' do presidente do Congresso, o messias talvez crie três superministérios, numa aplicação do "princípio da solidariedade', agora em sua formulação "restrita'... Realmente, a caixa foi aberta e, como na mitologia, o povo passou a ser afligido por todos os males.
O país é governado, na ordem de importância, por ACM, FFHH e Celso de Mello (?!). Não terá sido à toa que, quando Pandora foi criada, Hermes colocou em seu coração a traição e a mentira.
Mitologia é coisa séria. E país sem cultura é um desastre."
Gilberto Campista Guarino (Rio de Janeiro, RJ)

Pinochet preso

"A decisão da Alta Corte britânica de negar a imunidade do ex-ditador Pinochet é sem dúvida um acontecimento histórico que todos os amantes da justiça, liberdade e democracia devem celebrar com o maior entusiasmo.
O processo entretanto ainda não terminou. O ministro do Interior britânico, Jack Straw, deverá decidir se Pinochet será extraditado efetivamente à Espanha. Enquanto a decisão da Alta Corte foi jurídica, a do ministro será política, isto é, deverá avaliar as consequências políticas de sua decisão.
Este é, portanto, o momento oportuno para que os altos dirigentes políticos do Brasil venham expressar claramente sua posição a favor da justiça e contra a ditadura. Também é necessário que o governo brasileiro dê claros sinais de que uma reação dos militares chilenos contra a continuidade do processo democrático nesse país seria inaceitável no resto da América Latina."
Anibal Faúndes, professor titular de obstetrícia da Unicamp e coordenador da Saúde da Mulher no governo de Salvador Allende (Campinas, SP)

Pesos diferentes

"Interessante o governo de São Paulo. Reduziu o desconto do IPVA à vista de 5% para 3,5%. Porém, se o cidadão atrasar um só dia o pagamento desse tributo abominável, que em São Paulo tem a maior alíquota do Brasil, pagará uma multa de 20%, numa economia com inflação anual de 2%. Sr. Mário Covas, na campanha eleitoral o sr. não disse que roubar era feio? Pois é, concordo plenamente!"
Renato Silvestre (São Bernardo do Campo, SP)

Maníaco do parque

"É com enorme perplexidade que eu, Angélica Fraenkel, mãe de Isadora Fraenkel, descubro que a Rede Globo, o mais poderoso meio de comunicação do país e que portanto deveria impor limites éticos às matérias que exibe para milhões de brasileiros, apresenta uma reportagem como a que foi ao ar no "Fantástico' do dia 22/11/98, expondo detalhes dos últimos momentos da vida de minha filha, com requintes de crueldade e com extremos de vulgaridade, sem ter ao menos a gentileza de informar as famílias das vítimas sobre seu conteúdo grotesco.
Eu, como mãe de Isadora, gostaria de saber até que ponto chega a liberdade de imprensa sem que se passe por cima da liberdade das famílias das vítimas, que tiveram a memória das filhas brutalmente desrespeitadas. Tenho certeza de que, como eu, todos ficaram estarrecidos com o baixo nível da reportagem. Só posso esperar que os meios de comunicação tenham a partir de agora a sensibilidade de respeitar nossos sentimentos e parem de transformar a tragédia que se abateu sobre nós em mais um show da vida na busca desenfreada por audiência."
Maria Angélica Apezzatto Fraenkel (São Sebastião, SP)

Estupro na TV

"No meio das amenidades, o TV Folha do último domingo, no resumo da novela "Torre de Babel', diz que a personagem Bina "vai perder a virgindade', quando na verdade ela vai ser estuprada enquanto dorme narcotizada.
Dessa forma, o TV Folha ajuda a TV Globo a ocultar um estupro, apresentando-o como mais uma situação "cômica' do "núcleo cômico' da novela das oito. Que jornalista é esse, ou essa, que acha que a expressão "perder a virgindade' é suficiente para descrever a situação de ser estuprada enquanto dorme narcotizada, perder a virgindade e quem sabe também sua condição de não-grávida e não-contaminada por HPV, HIV e DSTs em geral?"
Maria Otilia Bocchini, professora do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA -Escola de Comunicação e Artes- da USP (São Paulo, SP)

Poeta ou poetisa?

"O termo "poeta' enquanto comum-de-dois já está suficientemente difundido e, diferentemente do que um leitor sugeriu ("Painel do Leitor', 26/11), acredito que deva ser usado normalmente. Esquece o referido leitor que a língua muda, e, nesse caso, trata-se de uma boa mudança. Afinal, o sentimento poético não tem gênero, está acima dessa contingência."
Elisa Sayeg (São Paulo, SP)

Adolescentes motorizados

"Justamente às vésperas do Natal surge essa "liberação expressa' que permite a qualquer garoto de 14 anos sair dirigindo seu ciclomotor pelas ruas. Enquanto falamos de déficit na balança comercial, resta saber: esses veículos são em sua maioria nacionais ou importados? Será que algum organismo internacional nos obrigou a liberar essas vendas?"
Roberto Pereira Marques (Mogi das Cruzes, SP)



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