São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A brincadeira acabou

BRASÍLIA - No dia em que o Paloccinho deixou de ser paz e amor e virou um ministro da Fazenda de discurso duro, contundente e implacável contra o atual governo, tudo começou a mudar nas relações FHC-Lula, atual e futuro governo.
A única curiosidade do discurso de Palocci na primeira reunião ministerial, na sexta-feira, foi deixar de fora críticas diretas à área de Saúde, reduto de José Serra, adversário de Lula no segundo turno. Por quê? Sei lá.
De resto, não sobrou pedra sobre pedra. Nem do governo FHC, nem do jeitão paz e amor de Lula. Que, aliás, não se deu por satisfeito com o discurso do seu ministro da Fazenda e engrenou a segunda.
Palocci desmontou a política econômica, o planejamento estratégico, os resultados na educação, as prioridades sociais, a política externa e não reconheceu nem o êxito da estabilidade, já que os preços sobem e a inflação ameaça.
Lula veio em seguida, prometendo continuar a vasculhar tudo, descobrir barbaridades e abrir cada detalhe para a sociedade. "Para não sermos culpados pelos erros dos outros."
Apesar disso, Lula avisou que não estava interessado em bate-boca. Do Palácio do Planalto, a quatro dias de deixar o cargo, FHC reagiu na linha do "quem ri por último ri melhor". Mandou o porta-voz retrucar que, logo logo, o novo governo vai abandonar "a retórica de palanque" e ver o que é bom para a tosse.
O que fica de tudo isso, após uma transição tão elegante, é um punhado de dez folhas, com 18 itens, com as críticas do governo que entra ao governo que sai. Até para comparação com o passado e, principalmente, com o futuro. Entra ano, sai ano, o discurso é de estabilidade, crescimento e justiça social. Mas, como disse Palocci, "o quadro de distribuição de renda está inalterado há 30 anos".
A expectativa que Lula, Palocci e o governo do PT abrem é de que esse quadro seja profundamente alterado nos próximos quatro ou oito anos. E que o discurso de Palocci não esteja perfeitamente atual na boca e na posse do sucessor de Lula. A conferir.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Seduções e compromissos
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Mário Magalhães: Weffort, o intelectual
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.