São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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Editoriais

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Do virtual ao real

Ainda que de modestas proporções, duas manifestações contra o aumento salarial para deputados e senadores, ocorridas anteontem, fecham 2010 num espírito avesso às complacências de rotina. Em Brasília, um grupo de estudantes bloqueou o trânsito na Esplanada dos Ministérios, invadindo a rampa do Palácio do Planalto; houve confronto com a polícia. Em São Paulo, cerca de cem manifestantes ocuparam uma faixa da avenida Paulista, dispersando-se sem violência.
Há nesses protestos componentes mais significativos do que faz supor sua pequena expressão numérica. Foi ampla, como se sabe, a indignação contra o reajuste salarial de quase 62%, autoconcedido pelos parlamentares.
A inconformidade não se limitou, contudo, aos dias imediatamente posteriores à votação. Propagou-se em ondas sucessivas, pela internet, e as manifestações desta segunda-feira vieram, sem dúvida, refletir esse processo.
Se no passado era visível a presença de partidos políticos (a começar pelo próprio PT) em movimentos desse tipo, a disposição para organizar protestos de rua reduziu-se hoje em dia, num clima em que as célebres organizações da sociedade civil amolecem num caldo de governismo e cooptação.
Ao mesmo tempo, pulverizaram-se os focos de inconformismo e contestação. Mecanismos de ativismo virtual, como abaixo-assinados e comunidades em sites de relacionamento, surgem para canalizar protestos dispersos.
Sendo hoje incerto o seu poder efetivo, ao menos alimentam a esperança de que, no futuro, não seja tão fácil à empáfia das autoridades jogar com o fato consumado. Vale lembrar que a Lei da Ficha Limpa constituiu fenômeno ao qual, de início, se atribuíam poucas chances de sucesso.
Novas formas de mobilização, aos poucos, articulam-se na sociedade. Se ainda são pequenos ou duvidosos os seus resultados, não será demasiado irrealista desejar que no futuro ganhem em intensidade e abrangência.


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