São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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RUY CASTRO

Um mês depois

RIO DE JANEIRO - E, por falar nas melhores notícias de 2010, a Vila Cruzeiro, a Penha e o Complexo do Alemão, apenas um mês depois de ocupados pelo bem, já fazem parte do Rio válido, civil e republicano. Têm comércio aberto nas horas de praxe, não as que o poder paralelo determinava, e seus mercadinhos hoje vendem feijão, macarrão, legumes -não só da clara e da escura. Empresas regulares fazem entregas de celulares, TVs e cosméticos em motos e carros legalizados, não roubados.
Um mês depois, o Alemão tem cinema com projetor 3D, ar condicionado, isolamento acústico, bombonnière e até poltronas para deficientes e obesos -sendo que, até então, como as outras favelas do Rio, nunca tivera cinema. O teleférico, já "inaugurado" por Lula, começa a funcionar em março e terá painel em homenagem a Cartola. Vêm aí uma delegacia, uma quadra poliesportiva, uma creche e um centro de inclusão digital. A Comlurb, limpeza urbana do Rio, promete passar todo dia. É como ser cidadão, fazer parte do mapa.
O povo voltou a subir a escadaria da igreja da Penha: 15 mil pessoas, só nos últimos 15 dias, incluindo gente que não ia lá havia 40 anos. Não será surpresa se, a partir de 2011, a festa da Penha, em outubro, voltar a ser um polo da música popular, como foi até fins da década de 20, maior até do que o Carnaval.
Mas o melhor, por enquanto, é o que a Vila Cruzeiro, a Penha e o Alemão não têm mais: medo. Nem o medo de andar pelos becos e ruas a qualquer hora, nem o de ter de presenciar cenas de violência e fazer de conta que não viu, ou o de ter a casa ou a laje ocupada como bunker. E, principalmente, o medo de denunciar -neste fim de semana, um figurão da droga, foragido, voltou ao Alemão e foi capturado por indicações de moradores.
É cedo para tanto otimismo? Talvez. Mas pergunte aos interessados diretos -os que moram lá.


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