São Paulo, terça, 29 de dezembro de 1998

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Eles merecem

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Celso Pitta (PPB), prefeito de São Paulo, conseguiu a façanha de ser o pior dos 21 governantes avaliados pelo Datafolha (dez governadores, dez prefeitos e o presidente da República).
Tem apenas 11% de "ótimo/bom", nota média 3,4.
Se não merecesse avaliação tão negativa pelo que fez nos seus dois anos de gestão, Pitta mereceria nota até inferior pelo que vem fazendo com seu padrinho político, Paulo Salim Maluf, nos últimos dias.
Pitta está promovendo um festival de cenas de oportunismo explícito, tendo como importante coadjuvante sua mulher, Nicéa.
Nada a opor ao rompimento entre Pitta e Maluf. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Além disso, a história política brasileira está carregada de exemplos semelhantes, em que a criatura se volta contra o criador.
Mas o momento escolhido para a ruptura é eloquente demais: Pitta calou-se durante dois anos, alega até ter pago "o frango que não comeu" (em alusão ao escândalo batizado de "frangogate") e só agora, quando Maluf deixa de ser poder ou expectativa de poder, vem a público para crucificar seu antecessor.
É tão lerdo de raciocínio que precisou de dois anos para descobrir incompatibilidades com Maluf?
Igualmente eloquente é a frase de Nicéa Pitta sobre o seu voto nas eleições estaduais de outubro: diz ter votado em Mário Covas, mas só no primeiro turno, porque, no segundo, havia um fotógrafo por perto que poderia, eventualmente, registrar o candidato escolhido.
Quer dizer: a ruptura e o exercício da indignação com Maluf ficam confinados ao segredo, ao momento em que ninguém está vendo. Já vi muitos tipos de indignação, mas jamais vira indignação envergonhada.
Sou capaz de apostar que, se Maluf tivesse sido eleito, nada disso estaria ocorrendo.



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