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"No palitinho"
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - A Câmara dos Deputados,
o Congresso Nacional, o Estado de
Alagoas, o Brasil e o Natal bem que
poderiam passar sem mais essa: o assassinato da deputada Ceci Cunha.
O crime não é uma ficção, e o principal suspeito não é o mordomo. É o suplente de deputado Talvane Albuquerque, o primeiro na fila para ocupar a vaga da deputada agora e/ou na
próxima legislatura.
A cruel ironia é que, se assumir, Albuquerque terá conquistado simultaneamente mandato e imunidade. Só
poderá ser processado com autorização da Câmara.
O inquérito não acabou e o julgamento nem começou, mas a sensação
de que é culpado é tão generalizada
que as presidências da Câmara e do
Senado já discutem rito sumário para
cassação ou quebra de imunidade.
Numa entrevista publicada ontem,
Albuquerque só deixa uma alternativa: ou é praticamente imbecil, ou absolutamente cínico.
Disse que teve "só dois" encontros,
mas que falou "incontáveis vezes" por
telefone com o pistoleiro que matou
Ceci Cunha. Do que tratavam? Do assassinato de um outro deputado da
sua coligação, Augusto Farias.
Primeira impressão: tanto faz, tanto
fez se o morto fosse Augusto Farias,
Ceci Cunha, João, Pedro ou Maria. O
importante é que abrisse vaga para
Albuquerque na Câmara.
Segunda impressão: a escolha de Ceci foi quase "no palitinho", ou na base
do "uni, duni, tê".
Augusto tinha a "vantagem" de ser
irmão de PC Farias, cunhado oficial
de Elma Farias e extra-oficial de Suzana Marcolino. Uma morte a mais,
outra a menos...
Ceci tinha três "vantagens": durona
nas votações de verbas, irritava deputados fisiológicos e empreiteiros; não
era conhecida do pistoleiro, como Augusto; e, enfim, era mulher.
Um crime é sempre escandaloso, mas
esse extrapola qualquer limite. O que
leva todo mundo a um veredicto: "Só
podia ser em Alagoas".
Mas, pensando no Rio, em São Paulo, na ambição, na disputa de poder,
na falta de escrúpulos, bate uma dúvida: só podia mesmo ser em Alagoas?
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