São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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A SERVIÇO DAS METAS

As explicações do Comitê de Política Monetária do Banco Central para a interrupção da trajetória de queda da taxa de juros causaram reações num dia turbulento para o mercado financeiro. A esperada ata do Copom justifica a decisão com temores de que aumentos detectados nos índices de preços possam não ser um fenômeno temporário, mas "uma eventual acomodação da inflação em patamares mais elevados".
Desde dezembro, analistas projetavam pequenas altas da inflação para o início do ano. Também era de esperar que, sob pressão de custos de matérias-primas ou de aumento de tributos, alguns setores procurassem recompor suas margens.
Nada disso, no entanto, caracteriza um processo inflacionário que deva -ou mesmo possa- ser contido com altas taxas de juros. O país vem de um duro período de retração, com forte queda da renda dos trabalhadores e índices alarmantes de desemprego. Aliada a outros fatores, a redução da taxa Selic, que o BC lentamente promovia desde junho de 2003, começava a aliviar a atividade econômica, renovando as esperanças de um 2004 melhor. Ao mudar a rota, supondo um descompasso entre a demanda e o crescimento da oferta, o BC desorganizou as expectativas e trouxe ao centro da cena um fantasma -o da inflação- que já parecia fadado a papel secundário.
A favor do Copom, diga-se que parece vivamente empenhado em cumprir a meta de inflação (de 5,5% para este ano). Seu zelo só é comparável ao do Ministério da Fazenda na busca de superávits fiscais. Essa situação vai transformando a economia brasileira numa espécie de experimento do qual se procura extrair, a todo custo, não o aumento da riqueza, mas metas de inflação e de superávit.
É preciso saber, no entanto, se tais metas são realistas e compatíveis com os verdadeiros objetivos a serem perseguidos, ou seja, crescimento, emprego e distribuição de renda. Caso contrário, o país continuará ao sabor de bolhas especulativas, sujeitas a mudanças de humores (como se observou ontem), sem romper com a dinâmica de crescimento medíocre e descontínuo dos últimos anos.


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