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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Um jeito de ser

BRASÍLIA - Ao presidir a última reunião ministerial, na Granja do Torto, Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo a seus ministros: o de que evitassem vazamentos para a imprensa.
Em resumo, disse que todos ali eram amigos desde criancinhas, tinham um projeto comum para salvar o Brasil e que deveriam sentir-se com liberdade de falar qualquer coisa, sem censura. "Não dá para abrir os jornais amanhã e ver tudo lá."
O pedido/advertência embute dois objetivos claros de Lula ultimamente: criar um "clima de equipe" entre os ministros e evitar os tais "vazamentos" para a imprensa. Como se fossem, ambos, 100% possíveis.
Acabada a reunião, Lula ofereceu um bom churrasco e a boa música do Clube do Chorinho de Brasília. Riu, brincou e aplaudiu quando Ciro Gomes (Integração), Miro Teixeira (Comunicações) e Roberto Rodrigues (Agricultura) soltaram a voz.
Depois, o presidente adotou um hábito. Vira e mexe telefona para um ou outro ministro com perguntinhas quase casuais: "E aí, com que colega você foi tomar chope esta semana?"; "Que casal você convidou para ir ao cinema com você e sua mulher?".
Na outra frente, Lula quer que os ministros abram a boca para cantar, mas não para dar informações à imprensa. Declaratório formal pode. Informação mesmo sobre o que se discute, o que pode ser ou não ser, eventuais divergências, tudo proibido.
É um jeito de governar. Ou melhor, um jeito de ser. Mas nem os ministros foram escolhidos pela simpatia ou para ficarem amigos, nem governos devem ter tanto empenho para impedir que informações circulem. É assim que a sociedade se informa. Para se manifestar depois.
Nos EUA, a simbiose entre Estado e imprensa diante de questões tidas como de segurança nacional é um mau exemplo de liberdade de expressão. Com isso, presidentes como George W. Bush conseguem até amplas maiorias da opinião pública para bombardear países alheios. Mas, também com isso, cidadãos e cidadãs se tornam mais desinformados. Perde o país. Talvez perca o mundo.


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