São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

O petróleo contra-ataca

BRASÍLIA - Depois de passar quatro anos exercitando a política externa da luta de classes (sul-sul versus a maior potência), Lula chegou ao segundo mandato de portas abertas para o Primeiro Mundo. Num único mês, março, recebeu em Brasília os primeiros-ministros da Alemanha e da Itália, teve um encontro com o presidente dos EUA e terá outro amanhã.
Para início de conversa, Lula fala sobre o mundo do futuro e desfila as maravilhas dos biocombustíveis e do álcool brasileiro, novo fator de fortalecimento das relações com os EUA e pretexto para programas comuns na África, na América Central e no Caribe em primeiro lugar.
Fidel e Chávez não demoraram a passar recibo ao classificar o etanol como um exterminador do futuro, que vai arrasar a agricultura dos países pobres em favor da cana e do milho e matar de fome milhões de pessoas mundo afora.
O temor faz sentido. Não exatamente o temor da fome, mas o do etanol, pois a Venezuela come e vive do petróleo, e Cuba come na mão da Venezuela e sobrevive à custa dos petrodólares de Chávez. Imagine-se o que ambos andam falando de Lula. No mínimo devem dizer que quem é cooptado por "el diablo" acaba no inferno com ele. Mas o nosso Lulinha da cocada preta sabe como ninguém driblar ciúmes, críticas, adversários. Ao sair da intimidade de Camp David, ele já estará arrumando as malas e o discurso para receber Rafael Correa (Equador) e visitar a Venezuela e a Argentina -antes que Kirchner engrosse o coro dos aliados Chávez e Fidel contra o etanol e todos passem a criticar abertamente Lula e o Brasil. Lula tem que correr.
Em tempo: nada como fundo americano, que compra empresa falida de ""país em desenvolvimento", se livra do passivo e leva mais de US$ 100 milhões em meses. Negócio da China. Quer dizer, do Brasil.


elianec@uol.com.br

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