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ELIANE CANTANHÊDE
O petróleo contra-ataca
BRASÍLIA - Depois de passar quatro anos exercitando a política externa da luta de classes (sul-sul versus a maior potência), Lula chegou
ao segundo mandato de portas
abertas para o Primeiro Mundo.
Num único mês, março, recebeu em
Brasília os primeiros-ministros da
Alemanha e da Itália, teve um encontro com o presidente dos EUA e
terá outro amanhã.
Para início de conversa, Lula fala
sobre o mundo do futuro e desfila as
maravilhas dos biocombustíveis e
do álcool brasileiro, novo fator de
fortalecimento das relações com os
EUA e pretexto para programas comuns na África, na América Central
e no Caribe em primeiro lugar.
Fidel e Chávez não demoraram a
passar recibo ao classificar o etanol
como um exterminador do futuro,
que vai arrasar a agricultura dos
países pobres em favor da cana e do
milho e matar de fome milhões de
pessoas mundo afora.
O temor faz sentido. Não exatamente o temor da fome, mas o do
etanol, pois a Venezuela come e vive do petróleo, e Cuba come na mão
da Venezuela e sobrevive à custa
dos petrodólares de Chávez. Imagine-se o que ambos andam falando
de Lula. No mínimo devem dizer
que quem é cooptado por "el diablo" acaba no inferno com ele.
Mas o nosso Lulinha da cocada
preta sabe como ninguém driblar
ciúmes, críticas, adversários. Ao
sair da intimidade de Camp David,
ele já estará arrumando as malas e o
discurso para receber Rafael Correa (Equador) e visitar a Venezuela
e a Argentina -antes que Kirchner
engrosse o coro dos aliados Chávez
e Fidel contra o etanol e todos passem a criticar abertamente Lula e o
Brasil. Lula tem que correr.
Em tempo: nada como fundo americano, que compra empresa falida
de ""país em desenvolvimento", se
livra do passivo e leva mais de US$
100 milhões em meses. Negócio da
China. Quer dizer, do Brasil.
elianec@uol.com.br
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