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DEMOCRACIA POR UM FIO
Seria no mínimo imprudente afirmar que a frágil democracia paraguaia está saindo incólume da crise
que tomou conta do país. A renúncia
do presidente Raúl Cubas, 24 horas
antes do impeachment que o Senado
certamente lhe imporia, representa
antes de mais nada uma pausa na
disputa pelo poder em que estão empenhadas facções do Partido Colorado, desde que chegou ao fim, há dez
anos, a longa ditadura Stroessner.
A grande lição a ser tirada do episódio está na existência de um clima internacional hostil a rupturas institucionais. A discreta, mas firme, pressão do Brasil e da Argentina -principais parceiros do Paraguai no Mercosul- também demonstrou não ser
hoje tão fácil quanto há alguns anos
resolver conflitos à base de golpes de
Estado ou soluções não-institucionais.
Que o diga o general Lino Oviedo,
agora exilado na Argentina, um golpista de indiscutível popularidade, e
que tentou, em 1996, derrubar o então presidente Juan Carlos Wasmosy.
Condenado judicialmente por essa
tentativa frustrada de golpe, ele não
conseguiu, como pretendia, disputar
a eleição presidencial seguinte.
Cubas, com sua renúncia, deveria
ser substituído pelo vice-presidente.
Mas o titular do cargo, Luís Maria Argaña, foi assassinado semana passada. Argaña havia sido aliado político
do presidente do Senado, Luís González Macchi, que, por ser o personagem seguinte na linha sucessória, foi
investido na chefia do Estado.
É indiscutível que o Paraguai cairia
no isolamento caso essa traumática
sequência de episódios desembocasse numa saída militar. O país se auto-excluiria de ofício do Mercosul,
que representa sua única alternativa
de modernização econômica. Ao
Brasil, especificamente, não interessaria ter como sócio de Itaipu um governo originário das casernas e movido pelo populismo nacionalista.
O problema está agora em saber por
quanto tempo o atual equilíbrio se
mantém. Prognósticos são arriscados em se tratando do Paraguai.
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