São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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DEMOCRACIA POR UM FIO

Seria no mínimo imprudente afirmar que a frágil democracia paraguaia está saindo incólume da crise que tomou conta do país. A renúncia do presidente Raúl Cubas, 24 horas antes do impeachment que o Senado certamente lhe imporia, representa antes de mais nada uma pausa na disputa pelo poder em que estão empenhadas facções do Partido Colorado, desde que chegou ao fim, há dez anos, a longa ditadura Stroessner.
A grande lição a ser tirada do episódio está na existência de um clima internacional hostil a rupturas institucionais. A discreta, mas firme, pressão do Brasil e da Argentina -principais parceiros do Paraguai no Mercosul- também demonstrou não ser hoje tão fácil quanto há alguns anos resolver conflitos à base de golpes de Estado ou soluções não-institucionais.
Que o diga o general Lino Oviedo, agora exilado na Argentina, um golpista de indiscutível popularidade, e que tentou, em 1996, derrubar o então presidente Juan Carlos Wasmosy. Condenado judicialmente por essa tentativa frustrada de golpe, ele não conseguiu, como pretendia, disputar a eleição presidencial seguinte.
Cubas, com sua renúncia, deveria ser substituído pelo vice-presidente. Mas o titular do cargo, Luís Maria Argaña, foi assassinado semana passada. Argaña havia sido aliado político do presidente do Senado, Luís González Macchi, que, por ser o personagem seguinte na linha sucessória, foi investido na chefia do Estado.
É indiscutível que o Paraguai cairia no isolamento caso essa traumática sequência de episódios desembocasse numa saída militar. O país se auto-excluiria de ofício do Mercosul, que representa sua única alternativa de modernização econômica. Ao Brasil, especificamente, não interessaria ter como sócio de Itaipu um governo originário das casernas e movido pelo populismo nacionalista.
O problema está agora em saber por quanto tempo o atual equilíbrio se mantém. Prognósticos são arriscados em se tratando do Paraguai.


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