São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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A CAIXA-PRETA DO BC

Os episódios que giram em torno da desvalorização cambial, envolvendo a assistência do Banco Central a dois bancos privados de menor porte, continuam sem esclarecimento. Ao lado de denúncias graves de vazamento de informações, compõem o lado mais sombrio do abandono da âncora cambial.
Alguns técnicos do governo parecem partir de um pressuposto discutível: comparam a ação de vender dólares subsidiados a bancos em dificuldades ao programa de reestruturação bancária lançado depois da crise de 95, o Proer. Mas, tanto na extensão quanto no teor, são situações radicalmente distintas.
O Proer foi constituído com base num conjunto de regras. Já a ação após a crise cambial de janeiro último foi eminentemente discricionária. Desse ponto de vista, portanto, são duas situações muito distintas.
Entretanto, nos dois casos fez-se uso de recursos fiscais em nome de evitar uma reação em cadeia cujo desfecho poderia ser uma grave crise bancária. Novamente, há exagero nesse tipo de comparação.
Sob o regime do Proer, havia instituições em crise cujo porte era relevante para uma avaliação de seus efeitos sobre o resto do sistema. Nos bancos Marka ou Fonte/Cindam, a dimensão das operações era incomparavelmente menor.
Ainda que se argumente que suas posições a descoberto na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) apresentassem riscos nesse segmento do sistema financeiro, isso é muito diferente de uma situação-limite em que a saúde de todo o sistema bancário poderia ser posta em xeque.
Há outro aspecto decisivo: no Proer, os donos dos bancos fragilizados, sobretudo nos casos de fraude, ficaram sob a mira da Justiça. No caso dos bancos subsidiados após a crise cambial, seus proprietários saíram do episódio incólumes.
O BC deve explicações e há grande expectativa com uma apuração rigorosa de todo o relacionamento da instituição com os bancos privados, sobretudo ao longo e imediatamente após o abandono da âncora cambial.


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