|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A CAIXA-PRETA DO BC
Os episódios que giram em torno
da desvalorização cambial, envolvendo a assistência do Banco Central a
dois bancos privados de menor porte, continuam sem esclarecimento.
Ao lado de denúncias graves de vazamento de informações, compõem o
lado mais sombrio do abandono da
âncora cambial.
Alguns técnicos do governo parecem partir de um pressuposto discutível: comparam a ação de vender dólares subsidiados a bancos em dificuldades ao programa de reestruturação bancária lançado depois da crise de 95, o Proer. Mas, tanto na extensão quanto no teor, são situações
radicalmente distintas.
O Proer foi constituído com base
num conjunto de regras. Já a ação
após a crise cambial de janeiro último foi eminentemente discricionária. Desse ponto de vista, portanto,
são duas situações muito distintas.
Entretanto, nos dois casos fez-se
uso de recursos fiscais em nome de
evitar uma reação em cadeia cujo
desfecho poderia ser uma grave crise
bancária. Novamente, há exagero
nesse tipo de comparação.
Sob o regime do Proer, havia instituições em crise cujo porte era relevante para uma avaliação de seus
efeitos sobre o resto do sistema. Nos
bancos Marka ou Fonte/Cindam, a
dimensão das operações era incomparavelmente menor.
Ainda que se argumente que suas
posições a descoberto na BM&F
(Bolsa de Mercadorias e Futuros)
apresentassem riscos nesse segmento do sistema financeiro, isso é muito diferente de uma situação-limite
em que a saúde de todo o sistema
bancário poderia ser posta em xeque.
Há outro aspecto decisivo: no
Proer, os donos dos bancos fragilizados, sobretudo nos casos de fraude,
ficaram sob a mira da Justiça. No caso dos bancos subsidiados após a
crise cambial, seus proprietários saíram do episódio incólumes.
O BC deve explicações e há grande
expectativa com uma apuração rigorosa de todo o relacionamento da
instituição com os bancos privados,
sobretudo ao longo e imediatamente
após o abandono da âncora cambial.
Texto Anterior: Editorial: DEMOCRACIA POR UM FIO Próximo Texto: Editorial: ABERRAÇÕES MUNICIPAIS
Índice
|