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A falta que um Tancredo faz
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Falta ao Paraguai algo essencial para tirar o país da crise
política: um líder. Para ser ainda
mais precisa: um Tancredo Neves.
No poder há meio século, o Partido
Colorado sobreviveu à expulsão do
ditador Stroessner e ao processo de
redemocratização. Em frangalhos, mas
ainda mandando em tudo e em todos.
No Brasil, a ditadura previa
alternância no poder e gerou o
inevitável: a briga política deslocou-se
do Congresso para os quartéis, onde os
generais quebravam o pau a cada
sucessão. Isso deixava sequelas. E
ajudou muito no fim do regime.
Em 1984, com a ditadura caindo de
podre e a redemocratização caindo de
madura, a saída institucional passou
por uma bela implosão do PDS, o
partido que apoiava o regime militar.
Acompanhando as disputas dos
quartéis, o partido acabou dividido
entre o presidente Figueiredo, o vice
Aureliano Chaves, o ministro Mário
Andreazza e o ex-governador Paulo
Maluf. Foi assim que o PDS deu os
votos fundamentais para a vitória de
Tancredo (PMDB) no colégio eleitoral.
Uma profunda mudança, mas sem dor.
A opinião pública queria, o partido
governista já não se suportava e
Tancredo estava à mão, mineiro,
conservador, confiável. O homem certo
no lugar certo e na hora certa.
É o que falta ao Paraguai. Ao asilar-se
em Brasília, Stroessner deixou seus
pupilos se matando (agora,
literalmente) por lá: o general Lino
Oviedo (nada confiável), o
ex-presidente Juan Carlos Wasmosy
(de má reputação), o vice assassinado,
Luis María Argaña (incapaz de ganhar
convenções coloradas), entre outros.
E na oposição? O único líder a chegar
perto foi Domingo Laíno, mas ele foi
murchando, murchando e murchou de
vez nas eleições decisivas do ano
passado. Deu o lobo Oviedo vestido na
pele do cordeiro Raúl Cubas Grau.
O resultado é esse melê, sem
perspectivas de melhora.Talvez o
melhor para todo mundo, inclusive o
Brasil, seja que o presidente do
Senado, Luis Angel González Macchi,
vá assumindo devagar a Presidência e
acabe ficando. É a velha história: se
não tem tu, vai de tu mesmo.
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