São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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A falta que um Tancredo faz

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Falta ao Paraguai algo essencial para tirar o país da crise política: um líder. Para ser ainda mais precisa: um Tancredo Neves.
No poder há meio século, o Partido Colorado sobreviveu à expulsão do ditador Stroessner e ao processo de redemocratização. Em frangalhos, mas ainda mandando em tudo e em todos.
No Brasil, a ditadura previa alternância no poder e gerou o inevitável: a briga política deslocou-se do Congresso para os quartéis, onde os generais quebravam o pau a cada sucessão. Isso deixava sequelas. E ajudou muito no fim do regime.
Em 1984, com a ditadura caindo de podre e a redemocratização caindo de madura, a saída institucional passou por uma bela implosão do PDS, o partido que apoiava o regime militar.
Acompanhando as disputas dos quartéis, o partido acabou dividido entre o presidente Figueiredo, o vice Aureliano Chaves, o ministro Mário Andreazza e o ex-governador Paulo Maluf. Foi assim que o PDS deu os votos fundamentais para a vitória de Tancredo (PMDB) no colégio eleitoral.
Uma profunda mudança, mas sem dor. A opinião pública queria, o partido governista já não se suportava e Tancredo estava à mão, mineiro, conservador, confiável. O homem certo no lugar certo e na hora certa.
É o que falta ao Paraguai. Ao asilar-se em Brasília, Stroessner deixou seus pupilos se matando (agora, literalmente) por lá: o general Lino Oviedo (nada confiável), o ex-presidente Juan Carlos Wasmosy (de má reputação), o vice assassinado, Luis María Argaña (incapaz de ganhar convenções coloradas), entre outros.
E na oposição? O único líder a chegar perto foi Domingo Laíno, mas ele foi murchando, murchando e murchou de vez nas eleições decisivas do ano passado. Deu o lobo Oviedo vestido na pele do cordeiro Raúl Cubas Grau.
O resultado é esse melê, sem perspectivas de melhora.Talvez o melhor para todo mundo, inclusive o Brasil, seja que o presidente do Senado, Luis Angel González Macchi, vá assumindo devagar a Presidência e acabe ficando. É a velha história: se não tem tu, vai de tu mesmo.


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