São Paulo, domingo, 30 de abril de 2000


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NOVA APOSTA DO BC


O Banco Central está apostando na estabilidade do câmbio num momento em que há uma deterioração mais forte das expectativas nos mercados financeiros internacionais.
Os mercados agem com o imediatismo de sempre. Diante de sinais ruins na economia mundial, apostam contra os países cuja estabilidade monetária depende de financiamento externo abundante.
No Brasil, esse comportamento se traduz numa propensão maior a vender reais e comprar moeda estrangeira. Também tende a se complicar o cenário de atração de capitais externos. Investidores procuram se proteger contra novas altas do dólar.
O BC, ao avaliar essa situação, tem de levar em conta as hipóteses de se tratar de uma alteração temporária ou se, ao contrário, há uma tendência mais duradoura e preocupante.
Ao apostar na defesa do câmbio (evitando também os efeitos inflacionários de uma desvalorização maior), o Banco Central parece supor que em pouco tempo os mercados voltarão a se acalmar.
É o que se viu nos últimos dias. Primeiro houve o fracasso na colocação de títulos públicos de prazo mais longo. Depois, identificada a pressão contra o real, o BC anunciou um leilão de títulos corrigidos pelo dólar. Até então, parecia predominar a intenção de reduzir a parcela de dívida pública atrelada à moeda estrangeira.
Ainda é cedo para avaliar até onde vai a aposta do BC, que pode estar usando a dívida dolarizada menos para conter a desvalorização cambial e mais para evitar que a alta do dólar, talvez inevitável, seja abrupta.
Em vez de gastar os dólares das reservas internacionais, o governo estaria optando por emitir papéis que, passada a fase de maior turbulência internacional, poderiam ser recomprados. Ou seja, seria um primor de cautela e inteligência, supondo sempre que o ambiente externo retome a trajetória de normalização que se observava desde o fim da crise asiática.
Resta saber se essa suposição é razoável, agora. Parece um jogo perigoso. Os dados mais recentes sobre a economia norte-americana, revelando pressões inflacionárias e aquecimento excessivo do consumo, abalaram as expectativas de que nos próximos meses houvesse uma política gradualista de juros por parte do Fed.
Na União Européia, depois de o euro chegar a uma desvalorização acumulada de 22% desde o seu lançamento, o Banco Central Europeu elevou também os seus juros.
São sinais de que o cenário mundial tende a ser pior que o esperado.
Como o desempenho da balança comercial brasileira melhorou, mas não a ponto de tranquilizar os mercados, torna-se duvidosa a estratégia de evitar uma desvalorização cambial maior, seja usando a dívida pública, seja queimando reservas.
Ao apostar na volta da calmaria, o governo lembra a defesa da âncora cambial e, num passado mais distante, a péssima experiência de adiar ajustes ao choque do petróleo supondo que o país seria maior que a crise.
Parece evidente, na atual conjuntura financeira internacional, que está diminuindo o raio de manobra do Banco Central do Brasil. Apostas na defesa de uma taxa de câmbio artificial, nesse contexto, tornam-se a cada dia mais arriscadas.


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