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NOVA APOSTA DO BC
O Banco Central está apostando na
estabilidade do câmbio num momento em que há uma deterioração
mais forte das expectativas nos mercados financeiros internacionais.
Os mercados agem com o imediatismo de sempre. Diante de sinais
ruins na economia mundial, apostam contra os países cuja estabilidade
monetária depende de financiamento externo abundante.
No Brasil, esse comportamento se
traduz numa propensão maior a vender reais e comprar moeda estrangeira. Também tende a se complicar o
cenário de atração de capitais externos. Investidores procuram se proteger contra novas altas do dólar.
O BC, ao avaliar essa situação, tem
de levar em conta as hipóteses de se
tratar de uma alteração temporária
ou se, ao contrário, há uma tendência
mais duradoura e preocupante.
Ao apostar na defesa do câmbio
(evitando também os efeitos inflacionários de uma desvalorização
maior), o Banco Central parece supor
que em pouco tempo os mercados
voltarão a se acalmar.
É o que se viu nos últimos dias. Primeiro houve o fracasso na colocação
de títulos públicos de prazo mais longo. Depois, identificada a pressão
contra o real, o BC anunciou um leilão de títulos corrigidos pelo dólar.
Até então, parecia predominar a intenção de reduzir a parcela de dívida
pública atrelada à moeda estrangeira.
Ainda é cedo para avaliar até onde
vai a aposta do BC, que pode estar
usando a dívida dolarizada menos
para conter a desvalorização cambial
e mais para evitar que a alta do dólar,
talvez inevitável, seja abrupta.
Em vez de gastar os dólares das reservas internacionais, o governo estaria optando por emitir papéis que,
passada a fase de maior turbulência
internacional, poderiam ser recomprados. Ou seja, seria um primor de
cautela e inteligência, supondo sempre que o ambiente externo retome a
trajetória de normalização que se observava desde o fim da crise asiática.
Resta saber se essa suposição é razoável, agora. Parece um jogo perigoso. Os dados mais recentes sobre a
economia norte-americana, revelando pressões inflacionárias e aquecimento excessivo do consumo, abalaram as expectativas de que nos próximos meses houvesse uma política
gradualista de juros por parte do Fed.
Na União Européia, depois de o euro chegar a uma desvalorização acumulada de 22% desde o seu lançamento, o Banco Central Europeu elevou também os seus juros.
São sinais de que o cenário mundial
tende a ser pior que o esperado.
Como o desempenho da balança
comercial brasileira melhorou, mas
não a ponto de tranquilizar os mercados, torna-se duvidosa a estratégia de
evitar uma desvalorização cambial
maior, seja usando a dívida pública,
seja queimando reservas.
Ao apostar na volta da calmaria, o
governo lembra a defesa da âncora
cambial e, num passado mais distante, a péssima experiência de adiar
ajustes ao choque do petróleo supondo que o país seria maior que a crise.
Parece evidente, na atual conjuntura financeira internacional, que está
diminuindo o raio de manobra do
Banco Central do Brasil. Apostas na
defesa de uma taxa de câmbio artificial, nesse contexto, tornam-se a cada dia mais arriscadas.
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