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A face privada da corrupção
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A Câmara Americana de
Comércio acaba de descobrir o óbvio,
no número mais recente de sua revista, a "Update". Pena que, no Brasil, o
óbvio tenha mesmo que ser descoberto
a cada dia ou passa ignorado.
Qual é o óbvio? "Não pode haver corrupção pública sem corruptores privados", como diz o editorial da revista.
Ou, como lembra John Mein, presidente da Câmara: "O setor público
não corrompe o setor público; quem
corrompe é o setor privado".
O editorial sugere "castigar a corrupção que emana das empresas privadas", o que "deve incluir uma contabilidade mais transparente e punição mais efetiva não apenas para
quem passa a "bola", mas igualmente
para quem toma a decisão, torna o suborno disponível ou, de qualquer modo que seja, aceita que seja praticado".
Perfeito. Só falta agora passar da
teoria à prática. Se quiser ser coerente
com sua pregação, a AmCham, com
todo o poder de fogo que tem, porque
representa algumas das grandes multinacionais instaladas no país, deveria
proibir, por exemplo, que suas associadas façam negócios com os envolvidos
no escândalo do esquema PC (Farias).
Vários empresários admitiram publicamente e/ou à Polícia Federal que
deram contribuições para o esquema,
alegando que foram vítimas de chantagem, embora jamais tenham denunciado a chantagem enquanto PC
era poderoso. Ou seja, todos eles aceitaram que o suborno fosse praticado.
Vale o mesmo raciocínio para o caso
do esquema Maluf/Pitta na prefeitura
paulistana. Os beneficiários privados
de escândalos públicos são razoavelmente conhecidos. No entanto, continuam gozando do respeito, da consideração e, acima de tudo, dos negócios
com seus pares do setor privado.
Se a pregação da Câmara Americana é para valer, já há pois material suficiente para começar a atacar a face
privada da corrupção. Ou tudo não
passará de mais um discurso, saudável, mas apenas discurso.
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