São Paulo, domingo, 30 de abril de 2000


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A face privada da corrupção


CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A Câmara Americana de Comércio acaba de descobrir o óbvio, no número mais recente de sua revista, a "Update". Pena que, no Brasil, o óbvio tenha mesmo que ser descoberto a cada dia ou passa ignorado.
Qual é o óbvio? "Não pode haver corrupção pública sem corruptores privados", como diz o editorial da revista. Ou, como lembra John Mein, presidente da Câmara: "O setor público não corrompe o setor público; quem corrompe é o setor privado".
O editorial sugere "castigar a corrupção que emana das empresas privadas", o que "deve incluir uma contabilidade mais transparente e punição mais efetiva não apenas para quem passa a "bola", mas igualmente para quem toma a decisão, torna o suborno disponível ou, de qualquer modo que seja, aceita que seja praticado".
Perfeito. Só falta agora passar da teoria à prática. Se quiser ser coerente com sua pregação, a AmCham, com todo o poder de fogo que tem, porque representa algumas das grandes multinacionais instaladas no país, deveria proibir, por exemplo, que suas associadas façam negócios com os envolvidos no escândalo do esquema PC (Farias).
Vários empresários admitiram publicamente e/ou à Polícia Federal que deram contribuições para o esquema, alegando que foram vítimas de chantagem, embora jamais tenham denunciado a chantagem enquanto PC era poderoso. Ou seja, todos eles aceitaram que o suborno fosse praticado.
Vale o mesmo raciocínio para o caso do esquema Maluf/Pitta na prefeitura paulistana. Os beneficiários privados de escândalos públicos são razoavelmente conhecidos. No entanto, continuam gozando do respeito, da consideração e, acima de tudo, dos negócios com seus pares do setor privado.
Se a pregação da Câmara Americana é para valer, já há pois material suficiente para começar a atacar a face privada da corrupção. Ou tudo não passará de mais um discurso, saudável, mas apenas discurso.


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