São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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CONTÁGIO ARGENTINO

A carta de intenções assinada entre o presidente Eduardo Duhalde e setores da base do governo, na quarta-feira passada, proporcionou alguma descompressão, ainda que efêmera, à mais recente crise política argentina.
A aprovação da lei que dificulta a liberação dos depósitos bloqueados, que agora passa a depender do aval da Suprema Corte e do Banco Central, tenta ajudar o país a ganhar tempo para restaurar a confiança no sistema financeiro. A nova lei possibilitou a reabertura dos mercados financeiros e cambiais.
Todavia o novo ministro da Economia, Roberto Lavagna, tem pela frente tarefas muito difíceis: liberar pelo menos parte dos depósitos bloqueados, monitorar a paridade cambial, evitar uma explosão inflacionária, promover o ajuste fiscal das Províncias, viabilizar um acordo com o FMI e reativar a economia.
Sobre os recursos retidos e a situação quase falimentar do sistema financeiro, o governo acena com a possibilidade de entregar bônus do Estado e dos bancos, de maneira compulsória, aos titulares de depósitos a prazo (mais ou menos 40 bilhões de pesos). E deseja oferecer, de maneira voluntária, títulos públicos aos detentores de recursos em contas correntes e de poupança.
A ausência de solução para a crise argentina ajuda a deteriorar as expectativas no Brasil. Em comparação com o primeiro trimestre de 2001, as exportações brasileiras para a Argentina encolheram 68,9%, e as importações, 27,5% -déficit de US$ 780,9 milhões. As estimativas sobre superávit comercial brasileiro vão sendo rebaixadas, o que aumenta a necessidade de captação de recursos externos (estimada em US$ 50 bilhões). A renda média do trabalho no Brasil cai pelo 14º mês consecutivo comparada ao mesmo período do ano anterior. As estimativas sobre a expansão do PIB começam a baixar dos 2,5% iniciais para a casa dos 2%.
Resta saber como o Banco Central vai reagir a essa por ora ligeira deterioração das expectativas. Paradoxalmente, se não retomar a política de redução gradual da taxa de juros, o BC vai realimentar o ceticismo.


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