São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Telecomunicações e a área econômica
ARMÍNIO FRAGA NETO
Meu colega Luiz Fernando Figueiredo distribuiu na CPE, com meu consentimento, um texto a título de ilustração dos sinais que captávamos àquela altura. Cabe ressaltar aqui dois pontos com relação a esse texto: 1) Embora o documento não estivesse assinado, seu autor e sua filiação setorial foram identificados quando de sua apresentação aos colegas da CPE; 2) Não endossamos suas conclusões. A reunião com a Anatel aconteceu no dia 13 de março e contou com a participação do então presidente Renato Guerreiro e de representantes da Casa Civil, da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento, do BNDES e do Banco Central. A discussão começou pelo tal texto e logo esclareceu-se que a preocupação do grupo, e do BC em particular, era com o setor, não com uma empresa isoladamente. Ficou claro também que o setor passa não por uma crise, mas, sim, como é natural de tempos em tempos, por um momento de reavaliação de algumas questões importantes para seu futuro. Essa visão é consensual no governo. Finalmente, Renato Guerreiro revelou que a Anatel não faz análise econômico-financeira das empresas do setor, uma lacuna importante que será preenchida inclusive com o apoio de outras áreas de governo. Foi essa a única decisão tomada na reunião com a Anatel. Essa não foi a primeira vez que procuramos a Anatel: após a crise cambial de 1999, fizemos consultas para entender a razão dos elevados aumentos nas tarifas de telefonia, o que, evidentemente, não agradou às empresas do setor. Naquela ocasião a Anatel nos informou de que os aumentos foram os previstos nos contratos em vigor e não se falou mais no assunto. As fórmulas de reajuste passaram então a fazer parte de nossa análise da tendência da inflação. Esse episódio exemplifica um aspecto importante do nosso trabalho: não é razoável nem prudente esperar de nenhuma área de governo a perfeição permanente. Entendo, por isso, ser essencial que outras instâncias de governo, como é o caso da CPE, se sintam obrigadas a alertar as áreas competentes quanto a suas preocupações, sem que isso signifique ingerência ilegítima ou ameaça à autonomia de uma agência reguladora, como a Anatel ou o BC. Na área da energia isso talvez não tenha sido feito com a devida ênfase. Agimos no sentido de cumprir com nossa responsabilidade e em prol da sociedade. Fiquei surpreso quando, mais de um mês depois das reuniões aqui relatadas, a direção interina da Anatel, em entrevista à imprensa, deu grande destaque ao texto quando este veio a público. Bastava desqualificá-lo tecnicamente, se a intenção era deixar claro que não há crise no setor. Ainda que a direção da Anatel tenha deixado claro que não teve por objetivo fazer nenhuma restrição ao nosso procedimento, o fato é que a entrevista desencadeou manifestações nesse sentido. Aceito as explicações de que foi um mal-entendido, mas não posso aceitar as insinuações, que seguiram, de que agimos movidos por interesses espúrios. Isso seria incompatível com os padrões éticos com os quais sempre trabalhamos. Armínio Fraga Neto, 44, doutor em economia pela Universidade de Princeton (EUA), é presidente do Banco Central do Brasil. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Francisco Whitaker: Fórum Social Mundial em perspectiva Índice |
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