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EM BRANCAS NUVENS
Dizia-se , da dinastia dos Bourbon, que depois da Revolução
Francesa seus membros "nada
aprenderam e nada perdoaram". Ao
que tudo indica, o 13º Encontro Nacional do PT realiza-se neste final de
semana sob um lema mais amplo,
geral e irrestrito. Coisa nenhuma se
aprendeu, mas tudo se perdoa.
Afinal, tudo vai bem. Embalado pelos índices atualmente registrados
nas pesquisas eleitorais, o PT realiza
seu encontro como se não tivesse
passado de episódio menor, invencionice da oposição, ou, na melhor
das hipóteses, um mistério ainda a
ser "devidamente investigado" aquilo que constitui o mais escancarado
processo de degradação ética, política e ideológica já vivido por um partido de esquerda no Brasil.
As tentativas de "refundá-lo", reaproximando-o de suas origens sociais, freando o domínio da burocracia partidária e rediscutindo com
transparência seus objetivos e compromissos programáticos, foram rapidamente abafadas, depois de
amainarem os primeiros espantos
com a revelação do mensalão. A crítica interna se rendeu à cooptação, às
pressões do Planalto e à "realpolitik"
eleitoral. As considerações incômodas ficaram relegadas a grupos nanicos, enquanto o notório núcleo dirigente submerge na hipocrisia, barrando o debate acerca dos desmandos em nome da coesão. "Por que vamos deixar nossas pernas amarradas
para os adversários?", disse o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).
A política interna de um partido,
pode-se argumentar, é assunto que
diz respeito apenas a seus militantes.
O que merece atenção pública, entretanto, é o grau em que se revelam, na
acomodação petista diante da crise,
fenômenos que dizem respeito ao
conjunto da cultura política e do desenvolvimento institucional do país.
As perspectivas de que no Brasil se
constituísse um sistema partidário
impessoal e democrático, livre do
caudilhismo e do jogo oligárquico,
pautado pela clareza programática e
pela permeabilidade aos movimentos da sociedade civil, tornam-se claramente mais distantes.
Enquanto o PT se rende, mais do
que nunca, ao personalismo em torno de Lula e aos "apparatchiks" que
o cercam, o PSDB reduziu a três ou
quatro grandes eleitores a escolha de
seu candidato à Presidência. Seu costumeiro aliado, o PFL, parece menos
uma entidade da sociedade civil do
que uma instituição paraestatal à
sombra dos poderes regionais. Devorado pelo apetite dos próprios caciques, o PMDB mal merece a denominação de partido, que obviamente
deve ser recusada às seitas e legendas
de aluguel que compõem quase todo
o restante do sistema.
Praticamente não houve partido,
entretanto -do PT ao PP de José Janene, do PSDB de Eduardo Azeredo
ao PTB de Roberto Jefferson- que
não tenha exposto, com a crise do
mensalão, a insustentabilidade ética
de seus procedimentos; e com ela a
necessidade de uma reforma radical
no sistema político brasileiro. Como
os demais, o PT faz como se nada tivesse acontecido; e cada organização
partidária, em vez de refletir as aspirações dos setores organizados da
sociedade brasileira, torna-se apenas
instrumento para os interesses particulares dos que pretendem o poder.
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