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CACOETE ORTODOXO
O Banco Central ensaia desacelerar o ritmo de diminuição da
taxa de juros básica. A ata da reunião
de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que, após ter
sido reduzida quatro pontos percentuais em sete reuniões seguidas, a Selic se aproximaria do seu piso.
A decisão é um equívoco. O BC reconheceu que houve melhora na trajetória da inflação. Em 12 meses, o
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que baliza a meta oficial, teve alta de 5,32% em março.
Mas a projeção para dezembro caiu
para 4,42%, abaixo da meta de 4,5%.
Para 2007, as expectativas permaneceram alinhadas com a meta.
Apesar de ter descrito um cenário
favorável para o cumprimento das
metas de inflação, o Copom salientou que poderá se fazer necessário
maior gradualismo na queda dos juros. O documento explicitou três
preocupações. Primeiro, a defasagem entre a implementação da política monetária e seus efeitos sobre o
nível de atividade e a inflação. Para o
BC, a queda nos juros ainda não teve
impacto pleno na atividade e, por
conseguinte, na inflação. Segundo, a
conseqüência sobre os preços da retomada em curso da economia ainda
não está clara. Terceiro, tampouco se
sabe qual será o efeito do avanço do
crédito e do valor do salário mínimo
no consumo das famílias.
Assim, "tendo em vista as incertezas que cercam os mecanismos de
transmissão da política monetária,
(...) o Copom entende que a preservação das conquistas obtidas no
combate à inflação (...) poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia".
O mercado financeiro entendeu
que a Selic poderá cair menos nas
três próximas reuniões, alcançando
14,5% em agosto. Isso garantiria a
menor taxa de juros nominal da história recente do país na fase mais importante da campanha eleitoral.
Entretanto o IGP-M (Índice Geral
de Preços-Mercado), da Fundação
Getúlio Vargas, acumulou deflação
de 0,92% nos 12 meses terminados
em abril. O presidente do Fed (o banco central americano), Ben Bernanke, sugeriu que o aperto monetário
iniciado em junho de 2004 estaria
perto do fim. A taxa básica dos EUA
deve subir de 4,75% ao ano para 5%
em 10 de maio e permanecer nesse
patamar, favorecendo os mercados
emergentes, como o Brasil.
Essa rara confluência de fatores internos e externos benignos assegura
as condições para manter a trajetória
de queda da Selic, e não seu arrefecimento. O fato, contudo, não justifica
a manifestação voluntarista do titular
da Fazenda, Guido Mantega, "garantindo" que os juros continuarão
em queda. Não cabe ao ministro antecipar ao público o resultado que
deseja das reuniões do Copom.
De todo modo, a confirmar-se a
parcimônia do BC nas próximas reuniões do Copom, pouco se terá feito
para diminuir os juros reais da economia -que seguirão acima de 10%
ao ano, os maiores do mundo. As esperanças de acelerar o crescimento
econômico e o abatimento da dívida
pública também serão jogadas por
terra sem que uma ameaça inflacionária se tenha configurado.
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