São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A mais importante prioridade: a agricultura

Queda de preços, febre aviária, dólar deprimido, estiagens devastadoras, juros escorchantes, estradas esburacadas, portos congestionados, febre aftosa, insumos caríssimos, armazéns insuficientes, tributação intolerável, protecionismo internacional, invasões de propriedades... Tudo isso está colocando em risco a galinha dos ovos de ouro da economia nacional: a agricultura.
O setor passa por sérias dificuldades devido à conjugação desses fatores. Com exceção do açúcar e do álcool, os demais produtos agrícolas estão em crise.
Em volume, a safra e as exportações deverão aumentar. Mas, em valor, as exportações brasileiras desse setor ficarão em cerca de US$ 43 bilhões, o mesmo do ano passado. Como as importações deverão aumentar, por força de problemas domésticos, como foi o caso do trigo, que sofreu com os problemas climáticos, o saldo comercial do agronegócio deverá cair uns 3% em 2006 -fato que não acontecia desde o ano 2000. É a reversão de uma salutar tendência.
O grande problema é a deterioração da renda dos agricultores. Só a elevação do preço dos insumos responde por uma expressiva perda de lucratividade. O aumento do custo do combustível fez subir o preço do transporte, aliás, agravado pela precariedade das estradas de rodagem do país. A Confederação Nacional da Agricultura calcula que os produtores gastam R$ 7,50 em transporte para vender uma saca de soja de 60 quilos. Isso é um absurdo, pois, ao lado do transporte, há o custo de todos os outros insumos, sem falar nos impostos e nos juros.
A asfixia da agricultura brasileira é preocupante. É verdade que muitos fatores estão fora do nosso alcance, como é o caso da explosão do custo do petróleo, da redução do consumo de frango e carne na União Européia e das barreiras que são impostas a nossos produtos. As ações na OMC estão paradas, a Europa resiste em liberalizar as importações de produtos agrícolas e os Estados Unidos e o Japão se dizem na espera de um afrouxamento europeu que nunca chega.
Mas, ao lado dos fatores externos, há muita lição de casa que não foi feita. A infra-estrutura se deteriora a cada dia. Os tributos agravam os altos preços dos insumos importados, especialmente fertilizantes, defensivos agrícolas e óleo combustível. Os pacotes de bondades anunciados pelo governo apenas aliviam a crise dos produtores, pois a maior parte de seus débitos decorre de adiantamentos concedidos pela iniciativa privada. E a prorrogação das dívidas com os órgãos públicos apenas empurra a crise para o futuro -sem dar conforto para animar novos investimentos.
O ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, tem sido um batalhador incansável ao tentar manter um mínimo de viabilidade para a produção agropecuária. Seus pleitos, entretanto, não têm encontrado o necessário eco nas autoridades monetárias. É hora de considerar seriamente que a agricultura é a base de sustentação da economia brasileira e precisa ser amparada.
Faço este apelo inteiramente à vontade, sem qualquer constrangimento, porquanto não me dedico nem à agricultura nem à pecuária, sendo este um reclamo a bem do país, em sua integridade, já que é evidente a vocação agropecuária deste país-continente.
Indústria e tecnologia são degraus do desenvolvimento, mas agricultura e pecuária são as âncoras de tudo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


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