São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Ação e reação

RIO DE JANEIRO - Dentro da lei de que a cada ação corresponde uma reação, lembrei há pouco as minas magnéticas que eram atraídas pelos cascos dos navios. Acontece que os cascos dos navios passaram a receber uma camada antimagnética, neutralizando a tecnologia inimiga.
O mesmo ocorreu com os aviões invisíveis, que deixam de enviar reflexos para os radares que vigiam o espaço aéreo de determinado país. Tecnologia é tecnologia.
Pulando da guerra para as eleições de outubro, continua valendo a norma de que para cada ação corresponde uma reação.
Os escândalos do mensalão e do valerioduto escancararam a corrupção instalada nas campanhas eleitorais. Deram a impressão inicial de que não se repetiriam no futuro. Nenhum partido e nenhum candidato serão bestas o suficiente para aceitar doações vultosas de empresas e instituições gigantescas. Mas que diabo, sem dinheiro não há campanha. Ele terá de vir de alguma forma.
A solução encontrada parece ser a dos recursos pulverizados, provenientes de quitandas, açougues, borracheiros e, quem sabe, camelôs. Não estou me referindo especificamente às doações que o PMDB teria recebido recentemente. Até agora me parecem acusações de partidos e organizações que desejam torpedear um determinado pré-candidato.
De qualquer forma, o mapa da mina para as doações de todos os partidos e candidatos será próximo a esse mesmo. E tem mais: será aperfeiçoado pela criatividade inesgotável dos marqueteiros e tesoureiros, que evitarão o caixa dois, mas dispõem, como na aritmética, da possibilidade do caixa 3, 4, até o infinito. Por essa e por outras, conforme expliquei em crônica recente, considero a democracia representativa uma solução furada para expressar a máxima constitucional segundo a qual todo poder emana do povo.
A mesma criatividade que possibilitou as fraudes deveria ser utilizada para melhorar o conceito e a prática da verdadeira democracia.


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