São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Petróleo: infinito enquanto dure
PAULO SKAF
No Brasil, não é menor a importância do petróleo. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, ele é responsável por 43,1% da matriz energética nacional, índice muito expressivo. Em segundo, a uma distância apreciável, estão as hidrelétricas, com 14%, seguidas da cana-de-açúcar, com 12,6%. Em quarto lugar, com 11,9%, aparece o carvão vegetal, depois o gás natural, com 7,5%, carvão mineral, com 6,6%, outras biomassas, com 2,5%, e, em último, o urânio, com 1,8%. A projeção do consumo de petróleo na frota nacional, o que é particularmente impactante num país com imenso território e praticamente sem malha ferroviária, aponta: o diesel é responsável por 50,7% do consumo de combustíveis nos veículos. Em segundo lugar, a gasolina, com 28,5%, seguida do álcool anidro, com 11%, e álcool hidratado, 7,9%. O gás natural ficou em último, com 2,2%. Considerando que o Brasil tem a nona maior frota mundial, com cerca de 22 milhões de veículos, não incluindo motocicletas, tratores e máquinas agrícolas, fica muito clara a sua imensa dependência do petróleo, a despeito do avanço na produção dos veículos multicombustíveis. Esta rápida análise evidencia o significado da auto-suficiência, em especial se considerarmos a duradoura tendência de elevação dos preços internacionais do petróleo -lembrando que esses valores acabam prevalecendo também no mercado interno, como ocorre com toda commodity inserida no livre comércio mundial. A despeito desse movimento de aumento dos preços e da inexorável extinção desse combustível fóssil, o consumo mundial continua crescente, principalmente devido às economias dos Estados Unidos e China. Os norte-americanos têm queimado algo em torno de 21 milhões de barris/dia, e os chineses, quase sete milhões. Em contrapartida, a produção da Opep, responsável pelo abastecimento de 40% do mercado mundial, cresceu em ritmo sensivelmente moroso nos últimos anos, permanecendo quase inalterado desde 2004. Deve ser considerado, ainda, o fato de a produção do Iraque permanecer estagnada, em decorrência do quadro político e instabilidade total do país (que tem a segunda maior reserva mundial). Como se não bastasse, não existem perspectivas alentadoras quanto à possibilidade de grande aumento da produção na Rússia, devido aos problemas econômicos enfrentados nesse país. E, finalmente, há que se considerar o baixo nível dos estoques de petróleo nos Estados Unidos. Enfim, todos esses fatores somados conspiram a favor do aumento de preços, tendência que deverá manter-se pelo menos até 2010. Assim, independentemente da auto-suficiência, o Brasil deve precaver-se, ampliar e desenvolver cada vez mais a produção e utilização do álcool combustível, além de diversificar sua matriz energética, com adoção, por exemplo, de combustíveis como o biodiesel, obtido por meio do processamento de plantas oleaginosas. Estas ponderações são necessárias, para evitar exagerada euforia em torno de uma conquista que não garante o presente e o futuro da oferta de energia necessária ao crescimento econômico. Assim, devemos encarar a situação com enfoque estratégico, utilizando a produção nacional com a devida sabedoria, inclusive no sentido de preparar nossa matriz energética para o momento da extinção do petróleo. Até lá, contudo, o país, 16º produtor mundial, deve capitalizar toda a força e os diferenciais econômicos suscitados pela auto-suficiência. Enfim, é preciso aproveitar o valioso combustível, integral e plenamente, até a última gota antes de sua extinção, inclusive como fator de geração de empregos, renda e estímulo a distintos setores de atividades. Ou seja, "que seja infinito enquanto dure", como disse o saudoso poeta Vinicius de Moraes. Paulo Skaf, 50, é o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Juan Pablo Lohlé: Mercosul em imagem digital Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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