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ALBA ZALUAR
Armas, adeus
NO RIO DE JANEIRO, a distribuição do tráfico de drogas
faz com que o barulho de tiros seja escutado em quase todos
os bairros. Dados da pesquisa de vitimização de 2006 permitem estimar percentual de 45% de pessoas
de 15 anos e mais que ouvem tiros
sempre e freqüentemente, além de
13% que já viram pessoas trocando
tiros. Mas, nas áreas sob o controle
de traficantes, as proporções de
morte de amigos, vizinhos e parentes por arma de fogo são de duas a
quatro vezes superiores às de outras áreas da cidade, o que aumenta
o risco de morrer assassinado para
os homens jovens, negros e pobres.
Não se pode, pois, negociar com
o Estado para que abra mão do monopólio legítimo da violência, ou
seja, que policiais abram mão de
portar armas quando cumprem o
dever do Estado de prover segurança a seus cidadãos. Mas se deve,
sim, exigir que policiais só façam
incursões fortemente armados para cumprir mandados de prisão ou
revistar residências durante investigações sobre depósito de armas e
drogas quando devidamente autorizados pela autoridade judicial. O
efeito principal seria o respeito aos
direitos do cidadão, o segundo, um
golpe na corrupção policial.
Na negociação com os moradores de tais áreas, não se pode deixar
de incluir o objetivo de reduzir o
acesso a armas de fogo pelos jovens, pois é isso que os mata. Os
efeitos do Estatuto do Desarmamento foram pequenos, considerando a dimensão que assumiram
os crimes intencionalmente letais
no país. Precisa-se, pois, saber de
onde vieram as armas que transformaram favelas em santuários de
traficantes e bairros populares em
áreas conflagradas em várias cidades brasileiras, trazendo medo e
insegurança para seus moradores.
Pelas fotos publicadas na imprensa, pelas entrevistas feitas desde
1980, muitas (quantas?) são exclusivas das Forças Armadas, provavelmente vindas de seus arsenais.
Primeiramente, é preciso estancar
esse fluxo como ação fundamental
na pacificação do país.
As Nações Unidas acabam de votar um Tratado Global sobre Comércio de Armas em que advogam
várias iniciativas, todas consideradas imprescindíveis para garantir
mais paz ao mundo. Ressalto duas
que ainda não mereceram a devida
atenção do governo federal: identificar os grupos e indivíduos engajados no comércio, estocagem,
transferência e posse ilegal das armas ditas leves, mas letais, para
puni-los judicial e exemplarmente;
garantir que as Forças Armadas e
as polícias estabeleçam claros e
adequados padrões e procedimentos relativos ao gerenciamento, inventário, controle e segurança dos
estoques de armas leves que estão
autorizados a manter.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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