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Entre riscos e benefícios
JORGE WERTHEIN
Cada vez mais gente está ciente do que a tecnologia pode nos oferecer. Os benefícios parecem óbvios. Já os riscos, nem tanto
"FIQUEM EM casa", dizia a
mensagem destinada aos 67
mil alunos, professores e
funcionários da Universidade do Texas (EUA). A origem do aviso era a
própria direção da universidade, que,
naquele dia de janeiro passado, previa
as conseqüências da tempestade.
Graças a um sistema avançado de
comunicação, os alunos receberam o
alerta simultaneamente em forma de
mensagens de texto em seus celulares
e por e-mail em seus computadores. A
universidade também lançou a advertência pela TV e pelo rádio. O resultado não poderia ser melhor: no dia seguinte, ninguém foi ao campus. A estratégia de prevenção funcionou.
É fácil imaginar o potencial dessas
medidas. As conseqüências de atentados terroristas, catástrofes naturais,
massacres ou acidentes podem ser
minimizadas com um alerta via telefone celular -como poderia ter ocorrido no recente massacre na Universidade Politécnica da Virgínia (EUA).
Situações menos trágicas também
podem ter o benefício da tecnologia:
agendamento ou cancelamento de
consultas médicas, lembretes para a
realização de uma prova, avisos de
chegada ou partida de um vôo, informações sobre o trânsito em determinado trecho de uma rua ou rodovia.
Não faltam exemplos de situações
em que a tecnologia atual pode e deve
fazer toda a diferença. O desafio é torná-las cada vez mais acessíveis ao
maior número possível de pessoas de
forma sempre produtiva.
Mais e mais governos, empresas,
comunidades e indivíduos estão cientes do que a tecnologia pode oferecer.
Os benefícios parecem óbvios. Já os
riscos, nem tanto.
O primeiro deles é a exclusão digital. À medida que a sociedade incorpora meios de informação e comunicação novos e mais sofisticados, reproduzem-se dentro dela velhas dessemelhanças. Se, antes, a sociedade
assistia ao distanciamento entre analfabetos e letrados -para ficar em uma
categoria-, ela agora assiste ao contraste entre quem domina a tecnologia de ponta e quem mal sabe do que
se trata. Mais agudo se torna o problema quando se observa que, mesmo
entre os privilegiados capazes de operar aparelhos de última geração, há lacunas e, não raramente, abismos.
Eis outro risco. Tornar-se usuário
da tecnologia é um passo importante,
mas deve prever um segundo: utilizar
a tecnologia de maneira produtiva
tanto do ponto de vista individual
quanto do coletivo. Grosso modo, pode-se dizer que pouco adianta um
adulto jovem ter pleno domínio sobre
o uso da internet se, uma vez conectado, ele desperdiçar horas em sites de
piadas, para ficar em um exemplo.
Em vista disso, o leque de possibilidades dos novos meios de informação
e comunicação parece ilimitado. Por
um lado, torna-se imprescindível desenvolver e disseminar tecnologias
capazes de melhorar a qualidade de
vida do maior contingente possível de
pessoas. A popularização do aparelho
celular no Brasil é um exemplo de êxito. Por outro lado, torna-se igualmente fundamental que a sociedade esteja
intelectual e eticamente preparada
para lidar com essas tecnologias.
A democratização avança. Cresce o
número de usuários da rede mundial
de computadores e de aparelhos celulares, para citar apenas dois exemplos. Segundo o IBGE, o Brasil tem
mais de 32 milhões de usuários da internet e 56 milhões de pessoas que
possuem telefone móvel para uso
pessoal. Isso significa, portanto, que
ainda existe a chamada brecha digital.
Os avanços, porém, são inegáveis.
A educação para o uso mais adequado e produtivo da tecnologia contemporânea, por sua vez, parece não
acompanhar o ritmo da popularização dos novos meios.
Cabe a comparação com o advento
do rádio e da televisão. Não resta dúvida de que são veículos quase universais -dificilmente haverá, na maior
parte do planeta, um lar onde não haja ao menos um aparelho de rádio ou
de TV. Infelizmente, o uso que se faz
desses veículos de comunicação nem
sempre atende às expectativas de um
nível adequado tanto do ponto de vista educacional quanto do ético e, às
vezes, até mesmo do informativo. O
mesmo já ocorre com aparelhos celulares, computadores e com a internet.
A história se repete, e não é exatamente como farsa. Cabe às autoridades constituídas e à sociedade mais
ilustrada a responsabilidade por garantir que os novos recursos tecnológicos continuem a se popularizar, oferecendo facilidades ao maior número
possível de indivíduos, ao mesmo
tempo em que favoreçam o desenvolvimento intelectual e ético de quem
os utiliza. É uma questão de escolha.
JORGE WERTHEIN, doutor em educação e mestre em comunicação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana - RITLA.
jwerthein@ritla.net
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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